- Dorme porque tá um temporal lá fora.
Nem foi preciso o Marcelo me falar de novo. Desde uma semana antes de viajar não dormia sossegado, hoje sim. Logo ao acordar me apaixonei pela primeira vez. O fiambre daqui é inesquecível. No Brasil se chama presunto mas nem dá pra comparar uma coisa e outra.
Arrumadinho, cheirozinho, máquina na mão, dinheiro no bolso e escondido, mochila nas costas. Pronto para embarcar pela primeira vez sozinho mesmo em Lisboa. Nem foi preciso andar muito pra me embananar. Carreguei o cartão do metro achando que era do comboio (trem), não conseguia comprar nada na maquininha inteligente e ainda tentaram me assaltar…é isso mesmo. Pior , foi um portuga. Cercou de um lado, pergunta de outro, mas carioca que sou dei um tapinha nas costas dele e disse simplesmente: valeu irmão!
Fui direto para o Baixo Chiado em direção de um praça linda que tem ali. De longe, o Tejo emoldurava a cidade. Fiquei emocionado com aquilo tudo. No alto, o castelo também me observava. Me lembrei do abrigo nazareno e da caixa d´água em campo grande que sempre estiveram cercando minha casa. Deu vontade de rir sozinho. Fui andando meio sem rumo e logo vi em todo lugar os azulejos portugueses, a arquitetura que tanto temos referencia no Brasil, um mescla de novo e velho, letreiros digitais sob casarões milenares. Segui rumo ao rio imaginando ser aquele o caminho principal mas bastou andar 100 metros para tudo mudar de direção. Um elevador colossal, no meio de prédios, todo de ferro, lindo mesmo, estava com suas portas abertas e sua imponência me chamando. Caro pra dedéu, 3 euros, mas tudo que ele me reservou valeu muito mais que isso.
Depois de muitas tentativas frustradas de tirar uma foto que enquadrasse o castelo de são jorge e a praça de rossio e eu, fui ajudado por um casal de gringos e assim começaram as trocas de máquina naquela torre de babel do elevador. No meio destes tantos uma pequena me pediu para fotografar e em seguida emendamos um papo que terminou quase agora. Fomos percorrendo ruelas do Chiado e da baixa pombalina, entre escombros da igreja e praça de Luis de Camões conversando aliviadamente. Tinhamos os mesmos objetivos sendo que ela indo pra casa e eu chegando na europa. Impressionante como os latino americanos se identificam pelo cheiro. Mesmo com ela hablando seu espanhol legítimo e eu sem arriscar uma palavra que aprendi no cursinho nos demos bem, apesar de não encontrarmos mais o elevador. Já estava satisfeito de ter conhecido Karin, a chilena, mas a Santa Providência move as peças sob esta cidade tão abençoada por santos, e logo em seguida nos encontramos com natália, sob o portal da cidade. A espanhola que falava mais rápido e não entendia bulufas do que eu dizia, mas riamos tanto juntos que me senti em um seriado americano cheio de claquetes rizonhas e sem graça. Paramos no chatô do Chapitô, lá na encosta do castelo, tomando uma breja local e provando uns tapas de bacalhau. Karin ia embora às 21h e fizemos sua despedida sob as luzes da cidade, mirando a ponte vasco da gama ao fundo. Natalia é de Salamanca e me ofereceu prontamente um pouso em sua casa. Prometi aparecer por lá. Assim, cheia de surpresas minha viagem vai ganhando aos poucos novas direções, cada vez mais interessantes. Acompanhei a chilena até seu ponto e nos despedimos como velhos amigos. Nesta hora a baixa já se silenciava, com ventos limpando suas ruas e levando consigo um dia pequeno e tão delicioso quanto fiambre português.
São Marcos, Portugal
Um comentário:
Amigo conhecer pessoas novas é maravilhoso principalmente quando estamos longe dos amigos, nos divertimos, nos distraímos e mesmo em um curto espaço de tempo temos a ligeira impressão de que não estamos sozinho! Curta muuuito mesmo tudo! Na próxima quero ver se vc dançou o Fado e tomou um bom vinho. Bjuus
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