terça-feira, 17 de março de 2009

ACHADOS E PERDIDOS

Neste exato momento estou na minha beliche, com quatro franceses a minha volta dormindo, no quarto que eu tanto paquerava na Internet pelas fotos. Já estou em Madrid faz um pouco mais de 24horas e ainda estou aprendendo a me adaptar a nova vida de viajante. De fato, é agora que tudo começa. Gostaria de contar as coisas engraçadas que aconteceram logo de cara mas tenho usado o blog como descarga emocional e não poderia negar a deprê que bateu ontem e hoje. A gripe, somada com a conversa inesperada com minha mãe pela net e o isolamento que uma língua diferente nos impõe me deixou com os pneus arriados. Preciso beber pra esquecer meus problemas como tinha dito. Sabia deste choque e comprei a briga. Agora agüenta, negão.

Para minha sorte este é o hostel que mais tem brasileiros trabalhando. Sulista, paulista e um de inhoaíba. Ele achou normal e eu ri pra caralho. Encontrar neguinho de inhoaíba só podia ser aqui mesmo. A comparação com são Paulo é inevitável. Suja, bagunçada, cheia de ruas iguais e atrações sem graça. Em compensação uma noite pulsante, com gay, putas, punks, roqueiros, clubbers e tudo mais. Por falar nisso hoje é dia de São Patrício, aquele que protege os bebuns, e a galera já começou a se animar. Amanhã é feriado em Madrid e vou me arriscar nestas nights loucas da capital espanhola. Por enquanto durmo cedo, tomo vitamina e tento me recuperar desta porra de coriza que peguei em cascais, lugar lindo por sinal, que voltei a visitar com meu amigo Marcelo e sua namorada. Nos embrenhamos pelas pedras, escorregando em um puta penhasco e fiquei horas no vento, crente que era um lisboeta, só de bermudinha e camisa. Deu no que deu.

Apesar da dor no corpo, amanheci animado, quase sem dormi ontem, feliz e preocupado com a entrada na Espanha. Os caras são super cricris e pedem tudo que é documento. Mesmo assim manda uma cacetada de brasileiros pra casa. Tinha que dar pinta de turista, esta era a dica do meu guia. Fui com a camisa do mengão, calça marrom, afinal turista sempre tem mal gosto e, pra completar, meti um chapéu comprado no china. Tava completa fantasia. Agüentei um aeroporto cheio de gente bonita, com porte e elegância, me encolhendo entre o livro e a cadeira. Desta vez pelo menos dei sorte e fui na janelinha. Vi umas plantações redondas, que se chama rotação de cultura mas parece um gráfico do do Excel e também vi uma coisa linda de longe:neve. Eita porra, vi neve lá longe, cobrindo feito um lençol branco o pico das montanhas. Mas a preocupação era grande e fiquei tentando imaginar o que o fiscal me perguntaria: Por que 2 meses?Cade o dinheiro?Por que você não torce pro Real Madrid?Desci com os documentos na mão, junto com o guia, a mochila de bordo e a água, parecia um sigano. Fui, fui, fui e..caralho, já passei. O vôo é regional e não precisa de controle de imigração. No meu ipod o mano chao cantava “Mano negra, clandestino, nigeriano clandestino..”

Depois de colocar as malas no hostel dei uma volta na cidade. Queria muito ver a puerta de sol, o marco zero da Espanha. Rodei pra caramba e nem acreditei quando guarda me disse o que era. Um largo em obra, com gente pra todo lado, muitas lojas e nada. O urso comendo a frutinha, símbolo da cidade, achei bem depois, no meio daquelas vacas pintadas que todo mundo acha legal e eu acho nada demais. Comecei a implicar com a cidade e sua gente. Tudo que eu via era previsível ou decepcionante. Melhor dormir. Quem disse?Malandrão acostumado a andar naquelas cidadezinhas de Lisboa saí sem mapa e me perdi. Mas não foi pouco não. Lembro me da hora que entrei pela grande via e depois de dar uma enorme volta saí nela novamente. Aqui em Madrid não tem quarteirão. As ruas são diagonais e como tudo é parecido me fudi de vez. Quando a coisa ficou feia fui perguntar a um china que me ignorou completamente. Cheguei no quarto tão cansado e puto que nem falei com ninguém.

Hoje foi diferente. Pra começar que tomei café da manhã e me arrisquei no Buenos dias com dois ou três que não responderam. É foda ser um analfabeto e mudo porque se não houver muita boa vontade do outro lado a conversa não rende. Fui pra rua me sentindo melhor, com o sol ainda se espreguiçando no céu. Com o mapa na mão varri pontos interessantes e mudei um pouquinho minha opinião. A beleza de Madrid está dentro dos lugares, com obras fantásticas nos museus. Fui ao Museu do Prado, onde havia uma exposição sobre deuses gregos em mármore branco. Fui sendo absorvido por tudo que diziam, impressionado com as datas e conservação. Estava tão compenetrado que me peguei cheio de tesão na Afrodite e daí pra frente a coisa ficou feia. Quadros com mulheres de peito de fora, bacanal rolando e realmente a coisa ficou feia. Estando nestes tantos dias sem colocar a máquina pra funcionar eu já to beliscando mármore e azulejo. Vi alguns pintores que gosto, como El Grego e descobri tantos outros que nem sequer conhecia. Mas perdi o quadro “As meninas’ de Velásquez, pois o museu fechou antes. Já havia visto no Rio e nem gosto muito dele, que era pela saco dos reis e se especializou em pintar as personalidades da côrte. O resto foi ladeira acima, virando o mapa até chegar aqui onde estou pra enfrentar um quarto solitário novamente. Opa, “habla español?”Non..”and you, speak english?”Im not...sorry..a francesa linda colocou seu shortinho cinza e adormeceu lendo um livro grosso me deixando aqui, in the dark.

Um comentário:

Unknown disse...

É peixe, vejo q no final o humor estava melhor...
Mas essa de beliscar o azulejo heim... rss Só vc mesmo...
Coitada da Francesa.
Óh, sem deprê, por favor... lembra do peixinho cantor...
O Piti manda uma mordida p/ vc e eu um beijo grande!