segunda-feira, 18 de abril de 2011

FAST FORWARD FRIDAY

“Uruguaiana né?”. Cem passos até o metrô. Um minuto atrasado. Quantos segundos demoram cada porta ao abrir e fechar? Abre e fecha. Abre e fecha. 8x. 11h17h. Todo dia o mesmo horário. “Bom dia gente”. Coca-cola light de ontem?Bebi e ninguém viu. Ela chegou. Não olhei. Notícias do flamengo. De Realengo. Anoto comprar calça nova na lista que começou segunda. Roupas para o show. Expectativa que dá fome. Ninguém tem biscoito. Word/meus arquivos/repertório. Quanto ta uma hering?Escrevo errado. Google acha. Ela pergunta se vi o email. Hoje tem reunião no cliente. Mais fome. Mais ansiedade. Mais Flamengo. Mais Realengo. Volto na lista e anoto fone de ouvido. Lembro do IPVA. Lembro da nota fiscal do show. Começo a fazer conta do mês e não termino. Melhor achar que tem mais. Falta corrigir todos os layouts. 14H o táxi vem. Mais ansiedade. Mais fome. Não dá para almoçar. Olho a campanha e imagino ganhar a conta. Imagino mais dinheiro. Lembro da lista. Lembro da banda e dos shows. Melhor fazer o repertório. Corrijo rápido. O táxi chegou. Ela está discutindo e vai querer atenção. Quis. Não olhei mas falei. Brinquei. Não vai dar para comprar a calça e vou tocar com a velha. Lembro do lenço novo que comprei. Volto na lista para riscá-lo mas não tinha incluído. Quero riscar alguma coisa. Entro no site da Hering. Alguém me chama no Facebook. Outro alguém. Um terceiro alguém sem foto me ofende. Não tenho tempo para gracinha. Já estão todos prontos. Abro o repertório. Ela pede para corrigir tudo de novo. Outra discussão acontece. A promoção tem um balão. Não acharam um balão?Como assim?Vou verificar. Volto. Abro o repertório. “Você viu o email”Não tinha visto. Estamos atrasados. CTRL C + CTRL V. 7 cópias das mesmas músicas. Deixo por conta do improviso. Levo a mala pra ela. A outra me pede para ir no meio. Não sou cavalheiro e vou no canto. Acordo com riso e com meu ronco. Chegamos na reunião dentro do shopping. Lembro da lista. Toca o telefone. Cadê o baterista?Olá, sou redator da agência. Celular no silencioso. Mando mensagem. Ela começa a falar e ler. Tenho medo de ter erro na apresentação. Falo alguma coisa para descontrair. Bebo água. A mensagem volta com o paradeiro do músico. Outro liga. Número desconhecido também. 17h. Gostam do balão. Lembro da discussão. Bebo água. O diretor parece não gostar. Tudo morno. Começo a imaginar como seriam fora do ambiente de trabalho. Lembro do público que vai me assistir. Quero riscar algo da lista. Será que ali vende brinco?Bebo mais água. To cansado mas não posso. Quero tomar um energético e alguém propõe cerveja. Não vejo loja de calça nem de brinco. Ta escuro. Alguém pergunta da reunião. Tento falar duas vezes mas não querem ouvir porque também querem falar. Bebo cerveja. Elogio o balão. Chega outra cerveja. Falamos todos nos celulares. Ela paga minha cerveja. Tento lembrar o número do ônibus. Ando apressado. Lembro da lista e do fone de ouvido. Lembro que vou tocar em outro lugar. Quero pensar só na banda mas ainda me vem as idéias do balão. O dinheiro na conta. Tem uma sobra e paro para comer. Não sei montar essa merda de sanduíche. Saio da fila. Compro energético mais adiante e fico no ponto. Muita gente e não posso me distrair. O baterista não chegou?Vão falar mal dele. Procuro relaxar no escuro com ar condicionado. Agenda: a,b,c.. lembro do brinco e das fotos com roupas iguais. Lembro da minha barriga com a camisa branca. Pego o repertório na mochila e tento pensar nos improvisos. Durmo. Acordo com a lata caindo no chão. Durmo, acordo e não conheço o lugar. O ônibus pegou outro caminho. Ligo e ninguém atende. Não vou conseguir chegar na passagem de som. Quero colocar o assunto na lista mas tenho que fazer outra lista de obrigações. Mas duas vai ser demais. “Posso descer ali no sinal?”Corre, corre, banho morno, calça velha, lenço novo na mochila. Cadê o baterista? Tem trânsito. “Alô, to quase chegando”. Passo direto no quebra molas. Lembro do velocímetro e da divida com o mecânico. Mais coisa na lista. E o repertório??Ligo para casa. Separa e alguém busca. Tenho que me identificar como vocalista. Ganho um sorriso simpático. Diminuo o passo. Agora sou o cantor. Agora sou o cantor. Falo com ela. Não aquela, agora outra diretora, outra cliente. Sorrio. Olho o espaço. Tem gente esperando mas é pouca. Duas moças lindas. Penso na primeira vez no que vou fazer depois do show. O baterista aparece. Ajudo a carregar tudo. Me mostra a camisa nova e fico com inveja. Chega gente. Me escondo no camarim e me arrumo cedo demais. To ansioso pela segunda vez no dia. Melhor beber de novo. Vou passar o volume de voz atrás do telão. O baterista foi para casa e fico sozinho. Lembro do balão e mando mensagem para saber se ganhamos alguma coisa. Lembro do repertório e ligo para o baterista. Mais gente chegando. Melhor beber mais. Volto ao camarim. Amarro o lenço. Tiro da cabeça porque acho que estou parecendo o Cazuza. Tento lembrar outro jeito de amarrar. Vi o vídeo do youtube. Não consigo. Lembro do email que não li. Chega o guitarrista e o baixista. Falam da passagem de som. Chega o percussionista e fala alguma piada que já conheço. Rio com todos. Não consigo amarrar o lenço. Melhor fazer do meu jeito. “A diretora quer falar com você”. Não a primeira, a segunda. Quer Roberto Carlos. Libera a comida. Lembro que não almocei e não me cabe agora fazer. Vou beber. Ela não quer no palco. Devolvo o sorriso. Chega o baterista de camisa nova. Chegam os convidados. Melhor começar agora?Nem olho pra frente. Apresso. Apresso. Quero sair dali. Olho para a moça. Tem outras moças. O que vou fazer depois daqui?Contagem regressiva. Tlec, tlec, tlec...