O Zé Carioca, piriquito do Marcelo não entendeu nada. Olhei pra ele, dei bom-dia, horas depois voltei e dei boa tarde. Com os pés ainda ardendo em bolha e o quarto quentinho, silencioso e escuro foi impossível ter disposição para enfrentar a ventania e o tempo mal humorado que estava lá fora. Perdi o encontro com uma grande e nova amiga mas como uma boa carioca ela vai relevar. Pago um chopp depois moça…Mas exagerei e levantei pelas 16h. Bateu uma cobrança de estar dormindo e perdendo um dia de europa e lá fui eu correndo, querendo ganhar o mundo, sem desperdiçar uma gota. Ia para Sintra mas como estava com o cartão de transportes que valia somente para lisboa resolvi subir o monte e chegar ao castelo de são jorge, que desde a minha chegada, me olhava de rabo de olho lá de cima. De fato uma vista fantástica, ideal para namorar, beijar na boca, mas como estavamos só eu e minha mochila, segui adiante, explorando seus labirintos de paredões e torres. Mais um lindo lugar nesta terra que estou aprendendo a gostar cada dia mais.
Na saída dois casais brasileiros fazendo pose de turista me pediram para tirar umas fotos. “É brasileiro?Carioca?Torce pro mengão?Então senta aí…”Cardiologistas que vieram pra um congresso e estavam aproveitando um tempo vago. Foi bom para pegar dicas precisosas sobre Paris e Roma ealém do incentivo a apertar um baseado em amsterdam. “Bicho, come também um bolo que eles fazem lá. Mais vai devagar que o efeito é lento e prolongado”. Papo bom demais que levou o sol embora e trouxe uma noite gelada. Como me sobrava gás desci até a a esplanada da figueira, vi uns livros usados, experimentei o mal humor típicos dos lusitanos e resolvi voltar ao bairro alto, onde deveria ter aquela hora algum movimento. Antes, fui surpreendido por uma esquina muito cheia com pessoas bebendo na rua, igual ao Rio. Tomavam uma cachacinha, como uma catuaba, feita pelo próprio dono do bar. Uma só já deu o grau e subi de carreira por trás do elevador de santa justa, que prometi nunca mais pagar por ele. Chegando no largo de Camões tentei encontrar o Fernando Pessoa, ou melhor, a estátuta dele que tantos falam. Ela esta na frente do café brasileira. Rodei muito, fui e voltei e a porra do café nem dava sinal. Rodei tanto que entrei no bairro alto e comecei a ver uns bares onde possivelmente mais tarde vai rolar um pancadão. Tava com muita vontade de mijar mas muitos hábitos brasileiros aqui não colam e fazer isso na rua é um deles. Então dei de cara com um botecão onde estava escrito FADO VADIO. Na hora me lembrei dos cães vadios, um grupo de vagabundos adolescentes que eu era componentes. Grandes caras, se estivessem aqui talvez fôssemos presos por baderna ou algo assim. Lá dentro uma brasileira, da minha idade servia os velhos beberrões. O bar era estilo boteco mesmo, mas no meio de tanta coisa chique tinha seu charme. Mijei, bebi umas duas cervejas e desci a ladeira para ir embora. Já estava contente com o rendimento do meu dia mas adivinhe quem fez psiu pra mim?O próprio Fernandinho…nunca li nada dele porque todo pseudointelectual o cita como Deus. Isso me afasta. Deve ser por isso que ele nem sorriu pra foto. Foda-se também. Eu vou pra casa e ele vai passar a noite ali sentado. Amanhã vou para Sintra…ou para o oceanário?Não existe destino melhor que a liberdade de escolhe-lo.
São Marcos, Portugal.
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