domingo, 15 de março de 2009

SEM DINHEIRO E SEM BANHO

Prestes a completar uma semana em Lisboa e já tendo conhecido os principais pontos turísticos da cidade, dei um até logo para o meu amigo e fui para o norte. No dia anterior havia abusado de gastar dinheiro pois além de precisar comprar um novo tênis (aquele outro filho da puta eu dei pro marcelo), almoçado bacalhau na rua e bebido em plena segunda no bar ouvindo fado vadio, também comprei uma parada que nunca tive e precisava aqui: um ipod. O bichinho me custou 139 euros , o que pode significar umas duas cidades ou umas cinco farras. Estava com a cabeça cheia de me cobrar mas precisava ouvir musica nas tantas horas pra lá e pra cá e o meu velho mp4 não resistiu ao vôo e quebrou de vez. O dia piorou quando perdi meu primeiro compromisso e dei adeus ao autocarro de 11h da manhã e com isso chegaria em Porto somente 18h. A viagem foi chata, com paisagem óbvia de mato para um lado e para o outro e um coroa português querendo ser amigo de além, falando pelos cotovelos. O que valeu mesmo foi ver, diante de nossos pés, uma cidade que parecia aquelas miniaturas feitas de caixa de fósforo. Porto brilhava ao sol e nós da janelinha fizemos um óóóóó uníssono.
Desci de frente a torre dos Clérigos que é uma piroca como o obelisco de ipanema com milhares de anos. De frente a ele me indicavam um hostel baratinho afinal havia me prometido que iria compensar os exageros de grana na semana. “Tem este aqui de 20 euros, com casa de banho e vista para a rua”.”Mas não tenho este dinheiro todo moço””Então fica com este aqui por 15 euros.” Um quadradinho, com pia, cama, uma mesinha de cabeceira e uma cadeira. As cobertas velhas eram finas e a única janela tinha o tamanho e um palmo. Larguei tudo lá e saí vadio, sem mapa nem nada pelas ruas, sentindo o sabor de estar perdido em uma cidade que não é sua, cheia de coisas para descobrir. De cara o bondinho antigo quase me atropela e desce as ruas varado. Vou seguindo seus trilhos e as pequenas ruelas da “Invicta” são se mostrando pra mim. Flores nas janelas, roupas também, carros, jovens nas ruas, tudo funcionando em harmonia. Tudo isso até chegar a ribeira, local onde eu tinha uma imagem na cabeça e precisava vê-la. E foi lá, sob a ponte que encontrei aquele cais, com barcos antigos, cheios de barril, casarios coloridos, caves de carvões e tudo que sempre vemos de porto. O sol ia embora e fiz umas fotos meio abestalhado com o lugar. Convicto das economias fui ao mercado e mandei ver no pão, sardinha e vinho e tava tudo relativamente bem quando encontrei o banheiro. Era velho, mal iluminado, sem box, somente a banheira com o chuveirinho. Eita, fica pra amanhã.
Depois de rodar e rodar pela ribeira e constatar que ali já foi point me mandei ladeira acima em direção a universidade, no piolho, mini bairro onde a rapaziada de porto mesmo entorna. Foi lá que conheci os tunas, que são rapazes que usam uma túnica e dão rote nos calouros. Nem precisa dizer que além de tocar com eles, dar trote no calouros também e ainda mandei uma: “Onde que compra uma roupa destas de harry potter?”Só eu ri. Mesmo assim fiz amigos ali e fui pra casa bêbado às 4h da manhã.

Era pra eu ir embora mas não fui. Logo constatei que as pessoas em portugal se tornam mais abertas a diálogo conforme vamos subindo o país. Havia ficado com uma ótima impressão dali principalmente por muitos que encontrei. O pessoal da tuna me ofereceu até abrigo e uma vaga no ensaio com eles. Toquei “Veja bem, meu bem” do Los Hermanos e eles queriam gravar. Por isso o segundo dia tinha tudo para ser fantástico e mesmo acordando às duas estava bem disposto. Subi ladeira pra cacete, vi porto de cima, de lado, de tudo que é jeito e deixei apenas as caves com os vinhos para depois. Havia neste meio tempo conhecido um carioca, que estava a atravessar a passadeira como eu e foi interpelado por mim. Me prometeu um tour pela frança, onde ele estuda. Eu estava indo encontrar mais três estudantes de Londres, paulistas, que também passeavam por ali. E foi com eles que inciei a night, sem tomar banho de novo porque não dava pra encarar aquela porra. Vimos o jogo do Porto contra o atlético de Madrid. Desde cedo os espanhóis enchiam o saco fazendo barulho pela cidade. E eles foram eliminados apesar do empate e joguinho mixuruca. Dali para uma festa do curso de direito lá na puta que pariu. Demos um trote no trem pois não pagamos e ficamos de olho caso viesse algum fiscal, também atravessamos o trilho andando e mijamos na rua, marginalidade total, que acabou com drinks de graça da portuguesa gordinha que sonhava conhecer o Brasil e trabalhava como garçonete na festa. Depois de dormi no táxi com eles, fui descendo até meu hostel com a certeza que o melhor que a vista ou a paisagem do porto, são as pessoas que descobri ali.
Cidade do Porto, Centro. Portugal

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