Sabia que gostava de espanhol mas não imaginava que iria aprender a me comunicar tão rápido. Porém, depois de quase 10 dias queimando a mufa pra aprender a cambiar, empezar, olvidar, e essas coisas complicadas, um espírito prático tomou conta de mim e, por ora, substituí a camaradagem de outros momentos pelo meu ipod. Estava esgotado e queria dedicar minha energia a tanta informação que a Itália me proporciona. Durante todo o dia conversei somente com brasileiro e uma vez ou outra em inglês, para o básico. Por sorte meus companheiros de quarto eram da terrinha e pude bater um bom papo antes de dormir. Eram 10 da manhã e o garoto aqui já estava de pé, com o lanche na mochila e cheio de energia. Tinha ido meio de qualquer jeito e quando vi a pinta do pessoal visitando os monumentos, fiquei até sem jeito. Eita povo charmoso, caceta. Todo mundo, até o cara do açougue, todo sujo, tem seu charme.
Conheci primeiro o Palatino, grande residência onde o imperador morava. Tinha ginásio, jardins, e abaixo o Circo Máximo, onde havia corridas de bigas e hoje só tem capim.
Pude entender pouca coisa ou quase nada porque não encontrei muitas placas. Mas tá bom, fiquei imaginando como era suntuoso e bem feito, com colunas perfeitas esculpidas à partir de uma pedra e estátuas de mármore super delicadas. Putz, a bateria da câmera acabou. Tinha me preparado pra passar o dia na rua e nem pensar em andar os 5km que me separavam do hostel. Só para constar, esta é uma cam nova pois a minha quebrou na viagem. Encontrei uma por 90 euros e espero não ter estourado o cartão da minha mãe. Mas voltando ao assunto, este entretempo me fez perder uma hora e por isso decidir encarar o coliseu. Desta vez aluguei um audioguide, que é aquele telefonezinho que a pessoa fica escutando informações sobre o lugar. O primeiro impacto é assustador, parecido com entrar no maracanã pela arquibancada. A moça que falava no audioguide não estava falando espanhol como eu pedi e sim italiano, mas pra não ter que reivindicar meus direito em inglês com a organização do lugar decidi seguir adiante e tentar entender. Passei um bom tempo lembrando dos jogos de vídeo game e dos filmes que vi. Russel Crowe toda hora aparecia nas minhas lembranças e foi bem legal mesmo. Mas a primeira chuvinha oficial na Europa tinha que aparecer e veio varrendo tudo. Desci como pude, com ipod, audioguide, câmera e cachecol, tudo embolado. Quando a coisa amenizou voltei a ouvir a gravação do aparelhinho e a mulher que antes devia estar falando espanhol agora falava alemão. Caralho, pensei que tivesse entrado água da chuva ou algo parecido. Catuquei o troço mas ela não parava de falar alemão. Tive então que me arriscar com uma bonitinha em inglês, que pacientemente ensinou pro índio aqui como se mudava a linguagem.
Eram 18h e eu não queria sair de lá de dentro. Fiz de tudo e nunca achava que estavam boas as fotos. É um lugar realmente impressionante e tão imponente que chega a ser amendrontador. Acabei enxotado e decidi otimizar o tempo conhecendo coisas 0800, perto dali. Entrei por um beco, outro, outro e já estava quase na praça alguma coisa, que diziam ser bem legal. Parei pra descansar as pernas e experimentei a primeira coisa que realmente me impressionou gastronomicamente falando. Deus me livre e guarde, eu não sei porque italiano é conhecido pela pizza fazendo um sorvete tão gostoso. Nunca na vida, tinha tomado uma coisa assim e ainda tão em conta. Já estava com a máquina na mão pra fotografar a tal praça, que devia parecer com as tantas outras praças que já vi na Espanha, mas não foi bem isso que aconteceu.
Tinham dois cavalos, sendo domados por dois homens fortes e acima deles um outro barbudo que nem ligava para as centenas de pessoas que estavam aos seus pés. A fontanna Di Trevi, surgiu como um oásis, toda branca, iluminada, uma visão celestial, parecia até que eu tinha visto o papai Noel. Como já imaginava fiquei com os olhos cheios d´água, não só pela beleza do lugar, mas por lembrar que a menos de dois anos esta era uma foto que eu via em preto e branco no meu livro e tinha muitas dúvidas se conseguiria chegar aqui. Chorei sim, mas foi só um pouco, porque tinha muita gente e tive que disputar a tapa um lugar pra sair na foto. Uma mocinha simpática que mora em Milão me ajudou e fomos comparsas por dois segundos. Vi que depois de dois dias sem falar em espanhol ele já estava um pouco arranhando o que me preocupa. Esta é a minha língua oficial na Europa. Como disse uma brazuca no coliseu, o português morreu para o mundo. Mas sim, joguei a moedinha, mais de uma, porque esqueci de gravar o momento. Dizem que a moeda garante que a pessoa volte a fonte, no meu caso, posso até levar acompanhante. A volta foi longa pois me perdi e perdi o mapa e acabei encontrando o Phanteon. Sombrio, com portas de ferro gigantes, deu medo. Tirei uma fotos mas volto amanhã com mais calma.
Depois de quase uma semana, entre ressacas no mar e no bar, finalmente fiz contato com a família e sei que tá tudo bem. Minha afilhada cabeçuda ligou meu videogame sozinha, Graça espera uma ligação minha e a banda truque arranha no reggae. Sinto a energia renovada e pronto pra subir mais um pouco no mapa. Florença, Lugano, Veneza...o que será que me espera?
Ah, impossível não agradecer os comentários tão queridos e carinhosos que as pessoas têm deixado pra mim e ainda os emails que recebo.Valeu pela força rapaziada...
terça-feira, 31 de março de 2009
domingo, 29 de março de 2009
TORMENTAS
São seis horas e o atrasado aqui tem que sair correndo entre japas e artistas pra chegar no porto. O sol engana muito e como não tenho relógio vivo assim, no susto. Mas o pior foi o que ouvi da mulher no guichê: “O navio só sai às 5h da manhã e pelo visto aqui já venderam sua passagem. Se tiver algum problema você se resolve com a polícia.”Preparado para acampar no saguão, fiz um pequeno espaço onde poderia colocar minha vida em ordem depois de 5 dias frenéticos. Fazia tempo que não escrevia e teria paz. Teria. Uma Argentina (eles me perseguem) me fez companhia, contando toda a sua vida e dividindo comigo aquelas horas frias. No dia anterior havia colocado a roupa pra lavar e esqueci meias e cuecas, por isso tinha pensado em criar o bicho solto mas nunca poderia imaginar o quão sofreria com isso. Pra completar o saguão foi invadido por centena de crianças e adolescentes, chatos em todo lugar do mundo. O caos estava formado.
O navio era lindo, como estes que os pobres de campo grande pagam pra ir até a Bahia e gastam uma fortuna, aqui custou 60 euros. Fiquei melhor que a hermana que preferiu poltronas mais baratas. Um banho digno, uma toalha limpa e ficamos na espera da porra zarpar. Mas era uma zona tão grande que desistimos e fomos dormir. Acordei com tudo chacoalhando, mas não era o barco. Os olhos doíam, a cabeça também e a tontura me fazia andar escorado. Me fiz de desentendido e dormi o quanto pude. Perdi almoço e tudo e nada do mal estar passar. Pra todos eu estava mareado e passei a acreditar nisso.
Foram dois dias torturantes no navio onde eu não tinha mais paciência pra falar espanhol e acabei maltratando a bichinha. Coitada. Nascida em Buenos Aires, ela vive em Sevilla e estava fazendo uma viagem pra encontrar a família dela no sul da Itália pra conseguir o visto. Estava ilegal e estava um pouco sofrida, ainda mais depois de tantas horas sem um banho, com a mesma roupa. Mas foda-se, eu doente do jeito que estava não podia cuidar de outra pessoa. Foi quando as coisas começaram a piorar pois descobrimos que não haveria transporte para Roma. Dormir do caminhão de um Húngaro que fiz amizade ou ir para estação de trem?Eu passei horas em dúvida até mirar aqueles olhos que já havia visto mas não tão de perto. Paula era brasileira e estava se chegando em um italiano com pinta de drogado quando falamos. Tínhamos tanta coisa em comum que a noite ficou pequena. Lenine, profissão, destino das viagens, tudo igual. Queria ficar mais com ela, tanto que pensei em ir para o monte Vesúvio, ou seja lá onde ela fosse. Mas o frio na bunda, na canela sem meia, tonto, com dor de cabeça e uma Argentina a tira-colo me excluiu de qualquer possibilidade e assistir quando o italiano roubou um beijo e ela se foi. Mais uma paixão de bolso pra guardar no coração.
Agora estou na cama do hostel. Tem um casal de brasileiros na minha frente e duas gringas que estão se arrumando pra dormir. Na cama de cima da minha uma portuguesa gostosa foi pra night e eu preferi ficar quietinho. Foram 30 pratas de remédio pro fígado, que não era enjôo do mar porra nenhuma e mais 10 de comida. Vi o coliseu de noite e participei de um evento em favor da água no planeta, onde o Totti, jogador italiano era o padrinho. Aqui em Roma é caótico, com carro furando o sinal, mas também é encantador, com gente mais espontânea e muito mais bonita que na Espanha. Fui encarado por algumas italianas mas sinceramente acredito que esta minha cara de doente não está fazendo nenhum sucesso. Ou será que elas já descobriram que eu não to usando cueca?
O navio era lindo, como estes que os pobres de campo grande pagam pra ir até a Bahia e gastam uma fortuna, aqui custou 60 euros. Fiquei melhor que a hermana que preferiu poltronas mais baratas. Um banho digno, uma toalha limpa e ficamos na espera da porra zarpar. Mas era uma zona tão grande que desistimos e fomos dormir. Acordei com tudo chacoalhando, mas não era o barco. Os olhos doíam, a cabeça também e a tontura me fazia andar escorado. Me fiz de desentendido e dormi o quanto pude. Perdi almoço e tudo e nada do mal estar passar. Pra todos eu estava mareado e passei a acreditar nisso.
Foram dois dias torturantes no navio onde eu não tinha mais paciência pra falar espanhol e acabei maltratando a bichinha. Coitada. Nascida em Buenos Aires, ela vive em Sevilla e estava fazendo uma viagem pra encontrar a família dela no sul da Itália pra conseguir o visto. Estava ilegal e estava um pouco sofrida, ainda mais depois de tantas horas sem um banho, com a mesma roupa. Mas foda-se, eu doente do jeito que estava não podia cuidar de outra pessoa. Foi quando as coisas começaram a piorar pois descobrimos que não haveria transporte para Roma. Dormir do caminhão de um Húngaro que fiz amizade ou ir para estação de trem?Eu passei horas em dúvida até mirar aqueles olhos que já havia visto mas não tão de perto. Paula era brasileira e estava se chegando em um italiano com pinta de drogado quando falamos. Tínhamos tanta coisa em comum que a noite ficou pequena. Lenine, profissão, destino das viagens, tudo igual. Queria ficar mais com ela, tanto que pensei em ir para o monte Vesúvio, ou seja lá onde ela fosse. Mas o frio na bunda, na canela sem meia, tonto, com dor de cabeça e uma Argentina a tira-colo me excluiu de qualquer possibilidade e assistir quando o italiano roubou um beijo e ela se foi. Mais uma paixão de bolso pra guardar no coração.
Agora estou na cama do hostel. Tem um casal de brasileiros na minha frente e duas gringas que estão se arrumando pra dormir. Na cama de cima da minha uma portuguesa gostosa foi pra night e eu preferi ficar quietinho. Foram 30 pratas de remédio pro fígado, que não era enjôo do mar porra nenhuma e mais 10 de comida. Vi o coliseu de noite e participei de um evento em favor da água no planeta, onde o Totti, jogador italiano era o padrinho. Aqui em Roma é caótico, com carro furando o sinal, mas também é encantador, com gente mais espontânea e muito mais bonita que na Espanha. Fui encarado por algumas italianas mas sinceramente acredito que esta minha cara de doente não está fazendo nenhum sucesso. Ou será que elas já descobriram que eu não to usando cueca?
BARCELONA
BARCELONA – AS PESSOAS
Barcelona é um lugar onde gente nova não é novidade. Todos os dias as Ramblas são invadidas por grupos enormes de turista. A mudança de gente no hostel também é algo que impressiona. Conheci poucos moradores que nasceram lá, pois em sua maioria, mudaram-se depois. O dia-a-dia da cidade é diferente e parece um pouco com o Rio, sem favela e gente feia. Todos os dias artistas de rua se apresentam por todos os lugares. Muito tradicional são os artistas fantasiados como estátua viva em busca de um troco. Tem macaco, gárgula, fadas, gente sentada no pinico, múmia vampiro, pra todo tipo. São criativos e levam o trabalho a sério, com horário marcado e respeito ao colega ao lado. Estava hospedado tão perto desta via principal que todos os dias os encontrava, muitas vezes conversando em rodinha, o que era muito engraçado.
Fora isso Barcelona inspira a moda. Cada um tem um particularidade pra mostrar. Comprei pra mim um camisa de brechó e um óculos colorido e fiquei todo bobo. Mas queria tanta coisa que a mochila não daria pra trazer. Vi gente de trança, suja, limpa, com gel e sem, enfim, é uma cidade que você pode ousar nas roupas e acessório.
Também é um lugar que aceita bem as diferenças, com negros, indianos e brasileiros pra todo lado.
BARCELONA – OS AMIGOS
ROBERT- Inglês figuraça que veio tentar a vida na cidade. Muito amigo, tagarela e brincalhão. Não era muito fã de banho e já encontrei um pão com queijo embaixo da cueca sobre a cama. Foi essencial para os meus primeiros dias e ensinei pra ela a expressão “GET OUT STAGE”, ou desce do palco, pra uma mulher metida a besta.
JUAN – Argentino que conheci em Segóvia e que se hospedou também no Kabul. Me ensinou tudo que aprendi sobre espanhol até agora. Paciente, leal e bem novinho. Foi meu companheiro em pontos turísticos. Não se dava bem com mapas e era normal andarmos em círculos. Nós três (com Robert) andávamos juntos boa parte do tempo.
BRASILEIRAS – Moravam em Porto mas estavam passeando de férias. A carioca era mais sagaz, tanto que saiu com o inglês, e a outra mais quietinha. Eram conhecidas de um brasileiro meio barro meio tijolo que foi minha companhia na primeira night catalã.
FRANCESES – Eram três mas apenas um era nosso amigo de verdade. Dizíamos que devia ter sido mendigo e agora estava bem de tanta felicidade. Sem tempo ruim. Fala um inglês tão certinho e pausado que até eu entendia o contexto. Pagava bebida, tomava iniciativa e estava sempre dizendo algo como MAKEMAMÁ. Um elogio pra mulherada, imagino eu. Os dois amigos dele diziam que eram muçulmano ou uma porra assim, mas andavam abraçados demais pro meu gosto.
FRANCESA – Aruuuiiii. Era assim que me chamava. Voava de paraglaide em todo lugar do mundo e tinha ido a Barca pra isso também. Dançava salsa e dançamos com o ipod no ouvido no último dia. Era gata e gente boa. Dizem que saiu com o colombiano que mal pude zoar dizendo que um brasileiro, um argentino e um boliviano no mesmo lugar era quadrilha. Me deu o contato pra encontrá-la na França.
MEXICANA – Figuraça. Namorada de uma pessoa importante no México que achou que era importante ela conhecer o mundo e deu uma viagem pra ela de seis meses por aí. Gostava de sair com a gente pra night e dançava e tirava fotos muito engraçadas. Elogiou meu espanhol e sempre muito atenciosa com o grupo.
BARCELONA – O LUGAR
Barcelona não seria nada sem as pessoas que vivem e passam por lá. Gaudi deu uma boa ajuda, colorindo e enchendo de traços incertos prédios, igrejas e parque. A Sagrada Família tem que ser vista sem ter que ouvir repetidas vezes que ta tudo em obra. Óbvio, a obra final termina em 20020. Parque Guell é muito lindinho, trabalhado com pedras, rochas, pedrinhas e azulejo. Um lugar pra namorar, tirar fotos e ver a vista da cidade. O Draco, dragão que eu tanto queria ver é menor do que eu imaginava, mas tem seu encanto também.
As ramblas, que parecem o calçadão de campo grande com muitos artistas e um mercado São Brás que se chama Boqueria. As praias são simpáticas, assim como os gramados que sempre tem um monte de gringo se esticando no sol. A night ficou devendo um pouco também, com atividades tão comuns e mornas como os outros lugares. 7, 8 reais uma cerveja desanima qualquer folião, ainda mais quando vê as dançarinas sob o balcão, com a bundinha triste e pequena.
BARCELONA – EU
Barcelona é um oásis no meio de tantas cidades caóticas e cinzas. Me senti bem pra caralho na cidade. Dormi na praia e no gramado, assisti banda cubana, fui em todos os pontos turísticos e creio ter conhecido bem o espírito da cidade. Tive dificuldade com a língua mas aprendi que vai muito mais da boa vontade alheia. No final, numa mesma roda, eu falava espanhol, inglês e português, do meu jeito, e nos entendíamos e riamos todas as noites. Fiz os gringos brincarem de rolha, sambarem e em troca dancei salsa, aprendi espanhol melhor que imaginava e deixei pra trás a primeira cidade que eu penso um dia voltar.
Barcelona é um lugar onde gente nova não é novidade. Todos os dias as Ramblas são invadidas por grupos enormes de turista. A mudança de gente no hostel também é algo que impressiona. Conheci poucos moradores que nasceram lá, pois em sua maioria, mudaram-se depois. O dia-a-dia da cidade é diferente e parece um pouco com o Rio, sem favela e gente feia. Todos os dias artistas de rua se apresentam por todos os lugares. Muito tradicional são os artistas fantasiados como estátua viva em busca de um troco. Tem macaco, gárgula, fadas, gente sentada no pinico, múmia vampiro, pra todo tipo. São criativos e levam o trabalho a sério, com horário marcado e respeito ao colega ao lado. Estava hospedado tão perto desta via principal que todos os dias os encontrava, muitas vezes conversando em rodinha, o que era muito engraçado.
Fora isso Barcelona inspira a moda. Cada um tem um particularidade pra mostrar. Comprei pra mim um camisa de brechó e um óculos colorido e fiquei todo bobo. Mas queria tanta coisa que a mochila não daria pra trazer. Vi gente de trança, suja, limpa, com gel e sem, enfim, é uma cidade que você pode ousar nas roupas e acessório.
Também é um lugar que aceita bem as diferenças, com negros, indianos e brasileiros pra todo lado.
BARCELONA – OS AMIGOS
ROBERT- Inglês figuraça que veio tentar a vida na cidade. Muito amigo, tagarela e brincalhão. Não era muito fã de banho e já encontrei um pão com queijo embaixo da cueca sobre a cama. Foi essencial para os meus primeiros dias e ensinei pra ela a expressão “GET OUT STAGE”, ou desce do palco, pra uma mulher metida a besta.
JUAN – Argentino que conheci em Segóvia e que se hospedou também no Kabul. Me ensinou tudo que aprendi sobre espanhol até agora. Paciente, leal e bem novinho. Foi meu companheiro em pontos turísticos. Não se dava bem com mapas e era normal andarmos em círculos. Nós três (com Robert) andávamos juntos boa parte do tempo.
BRASILEIRAS – Moravam em Porto mas estavam passeando de férias. A carioca era mais sagaz, tanto que saiu com o inglês, e a outra mais quietinha. Eram conhecidas de um brasileiro meio barro meio tijolo que foi minha companhia na primeira night catalã.
FRANCESES – Eram três mas apenas um era nosso amigo de verdade. Dizíamos que devia ter sido mendigo e agora estava bem de tanta felicidade. Sem tempo ruim. Fala um inglês tão certinho e pausado que até eu entendia o contexto. Pagava bebida, tomava iniciativa e estava sempre dizendo algo como MAKEMAMÁ. Um elogio pra mulherada, imagino eu. Os dois amigos dele diziam que eram muçulmano ou uma porra assim, mas andavam abraçados demais pro meu gosto.
FRANCESA – Aruuuiiii. Era assim que me chamava. Voava de paraglaide em todo lugar do mundo e tinha ido a Barca pra isso também. Dançava salsa e dançamos com o ipod no ouvido no último dia. Era gata e gente boa. Dizem que saiu com o colombiano que mal pude zoar dizendo que um brasileiro, um argentino e um boliviano no mesmo lugar era quadrilha. Me deu o contato pra encontrá-la na França.
MEXICANA – Figuraça. Namorada de uma pessoa importante no México que achou que era importante ela conhecer o mundo e deu uma viagem pra ela de seis meses por aí. Gostava de sair com a gente pra night e dançava e tirava fotos muito engraçadas. Elogiou meu espanhol e sempre muito atenciosa com o grupo.
BARCELONA – O LUGAR
Barcelona não seria nada sem as pessoas que vivem e passam por lá. Gaudi deu uma boa ajuda, colorindo e enchendo de traços incertos prédios, igrejas e parque. A Sagrada Família tem que ser vista sem ter que ouvir repetidas vezes que ta tudo em obra. Óbvio, a obra final termina em 20020. Parque Guell é muito lindinho, trabalhado com pedras, rochas, pedrinhas e azulejo. Um lugar pra namorar, tirar fotos e ver a vista da cidade. O Draco, dragão que eu tanto queria ver é menor do que eu imaginava, mas tem seu encanto também.
As ramblas, que parecem o calçadão de campo grande com muitos artistas e um mercado São Brás que se chama Boqueria. As praias são simpáticas, assim como os gramados que sempre tem um monte de gringo se esticando no sol. A night ficou devendo um pouco também, com atividades tão comuns e mornas como os outros lugares. 7, 8 reais uma cerveja desanima qualquer folião, ainda mais quando vê as dançarinas sob o balcão, com a bundinha triste e pequena.
BARCELONA – EU
Barcelona é um oásis no meio de tantas cidades caóticas e cinzas. Me senti bem pra caralho na cidade. Dormi na praia e no gramado, assisti banda cubana, fui em todos os pontos turísticos e creio ter conhecido bem o espírito da cidade. Tive dificuldade com a língua mas aprendi que vai muito mais da boa vontade alheia. No final, numa mesma roda, eu falava espanhol, inglês e português, do meu jeito, e nos entendíamos e riamos todas as noites. Fiz os gringos brincarem de rolha, sambarem e em troca dancei salsa, aprendi espanhol melhor que imaginava e deixei pra trás a primeira cidade que eu penso um dia voltar.
domingo, 22 de março de 2009
EXILADO EM KABUL
Tudo que escrever agora caberá dento de 10 minutos. Este è o tempo que tenho aqui no aalbuergue que se chama Kabul. Tambèm náo tem tomadas e o chuveiro a luz e o diabo a quatro tem tempo pra usar. È um dos melhores albergues do mundo e um dos mais economicos tambèm. A viagem pra Barcelona teve muita expectativa. Assisti antes o filme do Almodòvar pra tirar onda com meus amigos cultos do Brasil. AVISO: O filme è fraco. Porèm depois de uma noite táo morna assitir um fillme em espanhol me despertou muitos sentimentos e fiquei muito feliz com a minha capacidade de entender espanhol. Estou aqui em Barcelona fazem 3 dias e o tempo voa. Barcelona è o Rio de Janeiro que deu certo e as Ramblas, ruas principais parece o calçadáo de campo grande com direito ao mercadáo sáo bràs que aqui se chama Boqueria. No primeiro dia foi um inferno porque nao sabia falar nada direito e nao tinha amigos mas agora por exemplo, vou jogar buraco com 3 brasileiros, uma mexicana, um argentino e um ingles. Divido quarto com gente do mundo inteiro e aqui em volta tem muita gente. Chata ou bonita.
Tenho que ir...doi minutos.....ai ai i
volto a falar do navio rumo a roma...
Tenho que ir...doi minutos.....ai ai i
volto a falar do navio rumo a roma...
terça-feira, 17 de março de 2009
ACHADOS E PERDIDOS
Neste exato momento estou na minha beliche, com quatro franceses a minha volta dormindo, no quarto que eu tanto paquerava na Internet pelas fotos. Já estou em Madrid faz um pouco mais de 24horas e ainda estou aprendendo a me adaptar a nova vida de viajante. De fato, é agora que tudo começa. Gostaria de contar as coisas engraçadas que aconteceram logo de cara mas tenho usado o blog como descarga emocional e não poderia negar a deprê que bateu ontem e hoje. A gripe, somada com a conversa inesperada com minha mãe pela net e o isolamento que uma língua diferente nos impõe me deixou com os pneus arriados. Preciso beber pra esquecer meus problemas como tinha dito. Sabia deste choque e comprei a briga. Agora agüenta, negão.
Para minha sorte este é o hostel que mais tem brasileiros trabalhando. Sulista, paulista e um de inhoaíba. Ele achou normal e eu ri pra caralho. Encontrar neguinho de inhoaíba só podia ser aqui mesmo. A comparação com são Paulo é inevitável. Suja, bagunçada, cheia de ruas iguais e atrações sem graça. Em compensação uma noite pulsante, com gay, putas, punks, roqueiros, clubbers e tudo mais. Por falar nisso hoje é dia de São Patrício, aquele que protege os bebuns, e a galera já começou a se animar. Amanhã é feriado em Madrid e vou me arriscar nestas nights loucas da capital espanhola. Por enquanto durmo cedo, tomo vitamina e tento me recuperar desta porra de coriza que peguei em cascais, lugar lindo por sinal, que voltei a visitar com meu amigo Marcelo e sua namorada. Nos embrenhamos pelas pedras, escorregando em um puta penhasco e fiquei horas no vento, crente que era um lisboeta, só de bermudinha e camisa. Deu no que deu.
Apesar da dor no corpo, amanheci animado, quase sem dormi ontem, feliz e preocupado com a entrada na Espanha. Os caras são super cricris e pedem tudo que é documento. Mesmo assim manda uma cacetada de brasileiros pra casa. Tinha que dar pinta de turista, esta era a dica do meu guia. Fui com a camisa do mengão, calça marrom, afinal turista sempre tem mal gosto e, pra completar, meti um chapéu comprado no china. Tava completa fantasia. Agüentei um aeroporto cheio de gente bonita, com porte e elegância, me encolhendo entre o livro e a cadeira. Desta vez pelo menos dei sorte e fui na janelinha. Vi umas plantações redondas, que se chama rotação de cultura mas parece um gráfico do do Excel e também vi uma coisa linda de longe:neve. Eita porra, vi neve lá longe, cobrindo feito um lençol branco o pico das montanhas. Mas a preocupação era grande e fiquei tentando imaginar o que o fiscal me perguntaria: Por que 2 meses?Cade o dinheiro?Por que você não torce pro Real Madrid?Desci com os documentos na mão, junto com o guia, a mochila de bordo e a água, parecia um sigano. Fui, fui, fui e..caralho, já passei. O vôo é regional e não precisa de controle de imigração. No meu ipod o mano chao cantava “Mano negra, clandestino, nigeriano clandestino..”
Depois de colocar as malas no hostel dei uma volta na cidade. Queria muito ver a puerta de sol, o marco zero da Espanha. Rodei pra caramba e nem acreditei quando guarda me disse o que era. Um largo em obra, com gente pra todo lado, muitas lojas e nada. O urso comendo a frutinha, símbolo da cidade, achei bem depois, no meio daquelas vacas pintadas que todo mundo acha legal e eu acho nada demais. Comecei a implicar com a cidade e sua gente. Tudo que eu via era previsível ou decepcionante. Melhor dormir. Quem disse?Malandrão acostumado a andar naquelas cidadezinhas de Lisboa saí sem mapa e me perdi. Mas não foi pouco não. Lembro me da hora que entrei pela grande via e depois de dar uma enorme volta saí nela novamente. Aqui em Madrid não tem quarteirão. As ruas são diagonais e como tudo é parecido me fudi de vez. Quando a coisa ficou feia fui perguntar a um china que me ignorou completamente. Cheguei no quarto tão cansado e puto que nem falei com ninguém.
Hoje foi diferente. Pra começar que tomei café da manhã e me arrisquei no Buenos dias com dois ou três que não responderam. É foda ser um analfabeto e mudo porque se não houver muita boa vontade do outro lado a conversa não rende. Fui pra rua me sentindo melhor, com o sol ainda se espreguiçando no céu. Com o mapa na mão varri pontos interessantes e mudei um pouquinho minha opinião. A beleza de Madrid está dentro dos lugares, com obras fantásticas nos museus. Fui ao Museu do Prado, onde havia uma exposição sobre deuses gregos em mármore branco. Fui sendo absorvido por tudo que diziam, impressionado com as datas e conservação. Estava tão compenetrado que me peguei cheio de tesão na Afrodite e daí pra frente a coisa ficou feia. Quadros com mulheres de peito de fora, bacanal rolando e realmente a coisa ficou feia. Estando nestes tantos dias sem colocar a máquina pra funcionar eu já to beliscando mármore e azulejo. Vi alguns pintores que gosto, como El Grego e descobri tantos outros que nem sequer conhecia. Mas perdi o quadro “As meninas’ de Velásquez, pois o museu fechou antes. Já havia visto no Rio e nem gosto muito dele, que era pela saco dos reis e se especializou em pintar as personalidades da côrte. O resto foi ladeira acima, virando o mapa até chegar aqui onde estou pra enfrentar um quarto solitário novamente. Opa, “habla español?”Non..”and you, speak english?”Im not...sorry..a francesa linda colocou seu shortinho cinza e adormeceu lendo um livro grosso me deixando aqui, in the dark.
Para minha sorte este é o hostel que mais tem brasileiros trabalhando. Sulista, paulista e um de inhoaíba. Ele achou normal e eu ri pra caralho. Encontrar neguinho de inhoaíba só podia ser aqui mesmo. A comparação com são Paulo é inevitável. Suja, bagunçada, cheia de ruas iguais e atrações sem graça. Em compensação uma noite pulsante, com gay, putas, punks, roqueiros, clubbers e tudo mais. Por falar nisso hoje é dia de São Patrício, aquele que protege os bebuns, e a galera já começou a se animar. Amanhã é feriado em Madrid e vou me arriscar nestas nights loucas da capital espanhola. Por enquanto durmo cedo, tomo vitamina e tento me recuperar desta porra de coriza que peguei em cascais, lugar lindo por sinal, que voltei a visitar com meu amigo Marcelo e sua namorada. Nos embrenhamos pelas pedras, escorregando em um puta penhasco e fiquei horas no vento, crente que era um lisboeta, só de bermudinha e camisa. Deu no que deu.
Apesar da dor no corpo, amanheci animado, quase sem dormi ontem, feliz e preocupado com a entrada na Espanha. Os caras são super cricris e pedem tudo que é documento. Mesmo assim manda uma cacetada de brasileiros pra casa. Tinha que dar pinta de turista, esta era a dica do meu guia. Fui com a camisa do mengão, calça marrom, afinal turista sempre tem mal gosto e, pra completar, meti um chapéu comprado no china. Tava completa fantasia. Agüentei um aeroporto cheio de gente bonita, com porte e elegância, me encolhendo entre o livro e a cadeira. Desta vez pelo menos dei sorte e fui na janelinha. Vi umas plantações redondas, que se chama rotação de cultura mas parece um gráfico do do Excel e também vi uma coisa linda de longe:neve. Eita porra, vi neve lá longe, cobrindo feito um lençol branco o pico das montanhas. Mas a preocupação era grande e fiquei tentando imaginar o que o fiscal me perguntaria: Por que 2 meses?Cade o dinheiro?Por que você não torce pro Real Madrid?Desci com os documentos na mão, junto com o guia, a mochila de bordo e a água, parecia um sigano. Fui, fui, fui e..caralho, já passei. O vôo é regional e não precisa de controle de imigração. No meu ipod o mano chao cantava “Mano negra, clandestino, nigeriano clandestino..”
Depois de colocar as malas no hostel dei uma volta na cidade. Queria muito ver a puerta de sol, o marco zero da Espanha. Rodei pra caramba e nem acreditei quando guarda me disse o que era. Um largo em obra, com gente pra todo lado, muitas lojas e nada. O urso comendo a frutinha, símbolo da cidade, achei bem depois, no meio daquelas vacas pintadas que todo mundo acha legal e eu acho nada demais. Comecei a implicar com a cidade e sua gente. Tudo que eu via era previsível ou decepcionante. Melhor dormir. Quem disse?Malandrão acostumado a andar naquelas cidadezinhas de Lisboa saí sem mapa e me perdi. Mas não foi pouco não. Lembro me da hora que entrei pela grande via e depois de dar uma enorme volta saí nela novamente. Aqui em Madrid não tem quarteirão. As ruas são diagonais e como tudo é parecido me fudi de vez. Quando a coisa ficou feia fui perguntar a um china que me ignorou completamente. Cheguei no quarto tão cansado e puto que nem falei com ninguém.
Hoje foi diferente. Pra começar que tomei café da manhã e me arrisquei no Buenos dias com dois ou três que não responderam. É foda ser um analfabeto e mudo porque se não houver muita boa vontade do outro lado a conversa não rende. Fui pra rua me sentindo melhor, com o sol ainda se espreguiçando no céu. Com o mapa na mão varri pontos interessantes e mudei um pouquinho minha opinião. A beleza de Madrid está dentro dos lugares, com obras fantásticas nos museus. Fui ao Museu do Prado, onde havia uma exposição sobre deuses gregos em mármore branco. Fui sendo absorvido por tudo que diziam, impressionado com as datas e conservação. Estava tão compenetrado que me peguei cheio de tesão na Afrodite e daí pra frente a coisa ficou feia. Quadros com mulheres de peito de fora, bacanal rolando e realmente a coisa ficou feia. Estando nestes tantos dias sem colocar a máquina pra funcionar eu já to beliscando mármore e azulejo. Vi alguns pintores que gosto, como El Grego e descobri tantos outros que nem sequer conhecia. Mas perdi o quadro “As meninas’ de Velásquez, pois o museu fechou antes. Já havia visto no Rio e nem gosto muito dele, que era pela saco dos reis e se especializou em pintar as personalidades da côrte. O resto foi ladeira acima, virando o mapa até chegar aqui onde estou pra enfrentar um quarto solitário novamente. Opa, “habla español?”Non..”and you, speak english?”Im not...sorry..a francesa linda colocou seu shortinho cinza e adormeceu lendo um livro grosso me deixando aqui, in the dark.
domingo, 15 de março de 2009
SENTIMENTOS EM SANTIAGO
Uma cidade avisa pra você a hora que você tem que partir. Foi assim em Porto quando acordei e acertei as contas com o portuga mal humorado da pensão. Com uma informação cheguei até uma estação de autocarro prestes a realizar um sonho. Comi uma francezinha, prato típico da cidade e me mandei. Acordei e olhei na placa uma propaganda “Queres un coche?”. Caralho, pela primeira vez eu estava na Espanha.
Como brasileiro tem em todo lugar encontrei um casal aventureiro simpáticos e bonitos na mesma condução que eu. Tive que dar uma zoada por ele estar com a camisa do grêmio e me arrisquei “Bonita a camisa do Boca Juniors”.Ufa, ainda bem que ele riu.
Chegamos em Santiago de Compostela e fui surpreendido por uma cidadezinha dinâmica, agitada. Porra, sempre imaginei santiago uma espécie de mosteiro a céu aberto onde deveriam ter umas velhas te olhando pela fresta da janela. Nada disso. Parecia o centro de Caxias, muito mais bonito claro, com muitos prédios novos e ruas iluminadas. Fui até a porta do hotel que meus novos amigos sulistas estavam e perguntei sobre albergue ou algo assim. A moça não entendeu nada do meu espanhol que tanto treinei enquanto cagava antes de viajar. O curso de 3 meses do yes deve ter sido de espanhol de algum outro lugar, não este aqui. Bateu uma pane quando a moça disse que não tinhas estas acomodações ali, só foda da cidade. Eu estava 3 dias sem tomar banho, dormindo mal, comendo sardinha e não merecia ficar ao relento. Minha mochila só haviam duas mudas de roupa que já estavam suja e tudo que eu trouxe, inclusive o saco de dormir, estava em Lisboa. Mesmo assim acredito nos santos que me protegem, nas orações que a Graça e minha avó terezinha fazem por mim além da minha tia vânia que deve ter orado também por mim. Enchi o peito de ar e o cú na mão e saí por aquelas ruas do bairro velho, que são bem apertadinhas, pronto a perguntar ou pedir alguém que me desse abrigo. No mesmo ponto onde eu havia chegado encontrei uma placa de hostel. Fui disposto a tudo e fui recebido pelo sorriso mais bonito que vi na europa. Uma senhora, fofa, baixinha, com longos cabelos brancos. Um quarto foda, todo cuidado, televisão, cobertas extras, uma sacada com vista linda para a praça e as torres da catedral além de um banheiro todo cheio de babadinhos e sabonete: 20 euros. Comecei a fazer um video da minha alegria e comecei a chorar. Muito, muito. Não porque estava fedendo, mas porque parecia que eu tinha voltado pra casa, que havia alguém que gostava de mim. Pode parecer muito idiota pra quem lê essa porra agora mas talvez poucos saibam o que é estar do outro lado, com roupa suja, corpo sujo, sem transporte pra voltar, bancando tudo isso com seu próprio peito, sem platéia, sem gente pra me achar um coitadinho. Foi emocionante demais, acredite. Quero fazer um adendo também para dizer que sonho em ter uma casa assim, com varanda e uma praça na frente o que contribuiu para o chororô…
Um sentimento que me permito em toda viagem é sair andando sem mapa e ser surpreendido por alguma coisa. Me sinto um esbravador quando dou de cara com um paredão medieval ou como uma ponte. Foi assim quando cheguei ao lado da catedral e pude admirar toda sua magnitude. Uma frente tão grande que era dificil enquadrar na foto. Toda iluminada, a catedral que recebe tantos peregrinos diariamente tem imponência e deixa muitas que vi no chinelo. Não fiquei ali muito tempo e preferi tomar uma cerveza em algum sítio. Na máquina de colocar músicas, mais relaxado mandei um portunhol agressivo e comecei a ser entendido. Depois descobri que na Galícia, região que me encontro, eles falam assim. Fiz amigos logo de primeira. Conheci duas moças lindas, uma publicitária inclusive além de Alfonso , um figuraça noivo da outra tica. Aprendi a comer pipas, semente de girassol com sal, separei briga do Alfonso, bebi e ri muito com a minha dificuldade de falar. O povo espanhol é muito diferente do português e muito parecido com o brasileiro. Fomos no mesmo dia a 3 bares e terminamos numa boate. Também dirigi o carro, ou coche, da galega , levei gente bebada em casa, fui cantado por uma coroa, me pagaram um monte de coisa, enfim, uma puta noitada que tem tudo a ver com aquela cidade viva, cheia de universitários como Porto e gente espontânea e festeira. Nem preciso dizer que tava tudo tão bem que acordei com a tia da pensão batendo na porta. Disse sim pra ela, vou ficar mais um dia aqui. Infelizmente um desencontro me fez não ver esta galera mais uma vez pois marcamos em um lugar e ninguém chegou no horário. Por isso o dia seguinte foi mais calmo. Tive tempo de visitar o tumulo onde supostamente está o santo que, diz a lenda, foi decapitado pelos romanos e trazido la da casa do cacete até aqui. Também comprei coisinhas, como um emblema para costurar na mochila e um chaveiro. Deitei na frente da catredral, vi museus e mesmo naquela noite de novo aquele aviso que to aprendendo a conhecer cochichou no meu ouvido: tá na hora de voltar. Fiz a bolsa, pedi pra senhora me acordar e me mandei de volta para Lisboa que durou um dia inteiro dando muitas paradas, recordando o que passei e me planejando para uma aventura ainda maior. Daqui a 48 horas estarei na capital espanhola, Madrid.
Hasta La vista, Baby
Obs.: You can take one picture, please seu japa?thanks paulinha…
Praça Galícia, Santiago de Compostela. Espanha
Como brasileiro tem em todo lugar encontrei um casal aventureiro simpáticos e bonitos na mesma condução que eu. Tive que dar uma zoada por ele estar com a camisa do grêmio e me arrisquei “Bonita a camisa do Boca Juniors”.Ufa, ainda bem que ele riu.
Chegamos em Santiago de Compostela e fui surpreendido por uma cidadezinha dinâmica, agitada. Porra, sempre imaginei santiago uma espécie de mosteiro a céu aberto onde deveriam ter umas velhas te olhando pela fresta da janela. Nada disso. Parecia o centro de Caxias, muito mais bonito claro, com muitos prédios novos e ruas iluminadas. Fui até a porta do hotel que meus novos amigos sulistas estavam e perguntei sobre albergue ou algo assim. A moça não entendeu nada do meu espanhol que tanto treinei enquanto cagava antes de viajar. O curso de 3 meses do yes deve ter sido de espanhol de algum outro lugar, não este aqui. Bateu uma pane quando a moça disse que não tinhas estas acomodações ali, só foda da cidade. Eu estava 3 dias sem tomar banho, dormindo mal, comendo sardinha e não merecia ficar ao relento. Minha mochila só haviam duas mudas de roupa que já estavam suja e tudo que eu trouxe, inclusive o saco de dormir, estava em Lisboa. Mesmo assim acredito nos santos que me protegem, nas orações que a Graça e minha avó terezinha fazem por mim além da minha tia vânia que deve ter orado também por mim. Enchi o peito de ar e o cú na mão e saí por aquelas ruas do bairro velho, que são bem apertadinhas, pronto a perguntar ou pedir alguém que me desse abrigo. No mesmo ponto onde eu havia chegado encontrei uma placa de hostel. Fui disposto a tudo e fui recebido pelo sorriso mais bonito que vi na europa. Uma senhora, fofa, baixinha, com longos cabelos brancos. Um quarto foda, todo cuidado, televisão, cobertas extras, uma sacada com vista linda para a praça e as torres da catedral além de um banheiro todo cheio de babadinhos e sabonete: 20 euros. Comecei a fazer um video da minha alegria e comecei a chorar. Muito, muito. Não porque estava fedendo, mas porque parecia que eu tinha voltado pra casa, que havia alguém que gostava de mim. Pode parecer muito idiota pra quem lê essa porra agora mas talvez poucos saibam o que é estar do outro lado, com roupa suja, corpo sujo, sem transporte pra voltar, bancando tudo isso com seu próprio peito, sem platéia, sem gente pra me achar um coitadinho. Foi emocionante demais, acredite. Quero fazer um adendo também para dizer que sonho em ter uma casa assim, com varanda e uma praça na frente o que contribuiu para o chororô…
Um sentimento que me permito em toda viagem é sair andando sem mapa e ser surpreendido por alguma coisa. Me sinto um esbravador quando dou de cara com um paredão medieval ou como uma ponte. Foi assim quando cheguei ao lado da catedral e pude admirar toda sua magnitude. Uma frente tão grande que era dificil enquadrar na foto. Toda iluminada, a catedral que recebe tantos peregrinos diariamente tem imponência e deixa muitas que vi no chinelo. Não fiquei ali muito tempo e preferi tomar uma cerveza em algum sítio. Na máquina de colocar músicas, mais relaxado mandei um portunhol agressivo e comecei a ser entendido. Depois descobri que na Galícia, região que me encontro, eles falam assim. Fiz amigos logo de primeira. Conheci duas moças lindas, uma publicitária inclusive além de Alfonso , um figuraça noivo da outra tica. Aprendi a comer pipas, semente de girassol com sal, separei briga do Alfonso, bebi e ri muito com a minha dificuldade de falar. O povo espanhol é muito diferente do português e muito parecido com o brasileiro. Fomos no mesmo dia a 3 bares e terminamos numa boate. Também dirigi o carro, ou coche, da galega , levei gente bebada em casa, fui cantado por uma coroa, me pagaram um monte de coisa, enfim, uma puta noitada que tem tudo a ver com aquela cidade viva, cheia de universitários como Porto e gente espontânea e festeira. Nem preciso dizer que tava tudo tão bem que acordei com a tia da pensão batendo na porta. Disse sim pra ela, vou ficar mais um dia aqui. Infelizmente um desencontro me fez não ver esta galera mais uma vez pois marcamos em um lugar e ninguém chegou no horário. Por isso o dia seguinte foi mais calmo. Tive tempo de visitar o tumulo onde supostamente está o santo que, diz a lenda, foi decapitado pelos romanos e trazido la da casa do cacete até aqui. Também comprei coisinhas, como um emblema para costurar na mochila e um chaveiro. Deitei na frente da catredral, vi museus e mesmo naquela noite de novo aquele aviso que to aprendendo a conhecer cochichou no meu ouvido: tá na hora de voltar. Fiz a bolsa, pedi pra senhora me acordar e me mandei de volta para Lisboa que durou um dia inteiro dando muitas paradas, recordando o que passei e me planejando para uma aventura ainda maior. Daqui a 48 horas estarei na capital espanhola, Madrid.
Hasta La vista, Baby
Obs.: You can take one picture, please seu japa?thanks paulinha…
Praça Galícia, Santiago de Compostela. Espanha
SEM DINHEIRO E SEM BANHO
Prestes a completar uma semana em Lisboa e já tendo conhecido os principais pontos turísticos da cidade, dei um até logo para o meu amigo e fui para o norte. No dia anterior havia abusado de gastar dinheiro pois além de precisar comprar um novo tênis (aquele outro filho da puta eu dei pro marcelo), almoçado bacalhau na rua e bebido em plena segunda no bar ouvindo fado vadio, também comprei uma parada que nunca tive e precisava aqui: um ipod. O bichinho me custou 139 euros , o que pode significar umas duas cidades ou umas cinco farras. Estava com a cabeça cheia de me cobrar mas precisava ouvir musica nas tantas horas pra lá e pra cá e o meu velho mp4 não resistiu ao vôo e quebrou de vez. O dia piorou quando perdi meu primeiro compromisso e dei adeus ao autocarro de 11h da manhã e com isso chegaria em Porto somente 18h. A viagem foi chata, com paisagem óbvia de mato para um lado e para o outro e um coroa português querendo ser amigo de além, falando pelos cotovelos. O que valeu mesmo foi ver, diante de nossos pés, uma cidade que parecia aquelas miniaturas feitas de caixa de fósforo. Porto brilhava ao sol e nós da janelinha fizemos um óóóóó uníssono.
Desci de frente a torre dos Clérigos que é uma piroca como o obelisco de ipanema com milhares de anos. De frente a ele me indicavam um hostel baratinho afinal havia me prometido que iria compensar os exageros de grana na semana. “Tem este aqui de 20 euros, com casa de banho e vista para a rua”.”Mas não tenho este dinheiro todo moço””Então fica com este aqui por 15 euros.” Um quadradinho, com pia, cama, uma mesinha de cabeceira e uma cadeira. As cobertas velhas eram finas e a única janela tinha o tamanho e um palmo. Larguei tudo lá e saí vadio, sem mapa nem nada pelas ruas, sentindo o sabor de estar perdido em uma cidade que não é sua, cheia de coisas para descobrir. De cara o bondinho antigo quase me atropela e desce as ruas varado. Vou seguindo seus trilhos e as pequenas ruelas da “Invicta” são se mostrando pra mim. Flores nas janelas, roupas também, carros, jovens nas ruas, tudo funcionando em harmonia. Tudo isso até chegar a ribeira, local onde eu tinha uma imagem na cabeça e precisava vê-la. E foi lá, sob a ponte que encontrei aquele cais, com barcos antigos, cheios de barril, casarios coloridos, caves de carvões e tudo que sempre vemos de porto. O sol ia embora e fiz umas fotos meio abestalhado com o lugar. Convicto das economias fui ao mercado e mandei ver no pão, sardinha e vinho e tava tudo relativamente bem quando encontrei o banheiro. Era velho, mal iluminado, sem box, somente a banheira com o chuveirinho. Eita, fica pra amanhã.
Depois de rodar e rodar pela ribeira e constatar que ali já foi point me mandei ladeira acima em direção a universidade, no piolho, mini bairro onde a rapaziada de porto mesmo entorna. Foi lá que conheci os tunas, que são rapazes que usam uma túnica e dão rote nos calouros. Nem precisa dizer que além de tocar com eles, dar trote no calouros também e ainda mandei uma: “Onde que compra uma roupa destas de harry potter?”Só eu ri. Mesmo assim fiz amigos ali e fui pra casa bêbado às 4h da manhã.
Era pra eu ir embora mas não fui. Logo constatei que as pessoas em portugal se tornam mais abertas a diálogo conforme vamos subindo o país. Havia ficado com uma ótima impressão dali principalmente por muitos que encontrei. O pessoal da tuna me ofereceu até abrigo e uma vaga no ensaio com eles. Toquei “Veja bem, meu bem” do Los Hermanos e eles queriam gravar. Por isso o segundo dia tinha tudo para ser fantástico e mesmo acordando às duas estava bem disposto. Subi ladeira pra cacete, vi porto de cima, de lado, de tudo que é jeito e deixei apenas as caves com os vinhos para depois. Havia neste meio tempo conhecido um carioca, que estava a atravessar a passadeira como eu e foi interpelado por mim. Me prometeu um tour pela frança, onde ele estuda. Eu estava indo encontrar mais três estudantes de Londres, paulistas, que também passeavam por ali. E foi com eles que inciei a night, sem tomar banho de novo porque não dava pra encarar aquela porra. Vimos o jogo do Porto contra o atlético de Madrid. Desde cedo os espanhóis enchiam o saco fazendo barulho pela cidade. E eles foram eliminados apesar do empate e joguinho mixuruca. Dali para uma festa do curso de direito lá na puta que pariu. Demos um trote no trem pois não pagamos e ficamos de olho caso viesse algum fiscal, também atravessamos o trilho andando e mijamos na rua, marginalidade total, que acabou com drinks de graça da portuguesa gordinha que sonhava conhecer o Brasil e trabalhava como garçonete na festa. Depois de dormi no táxi com eles, fui descendo até meu hostel com a certeza que o melhor que a vista ou a paisagem do porto, são as pessoas que descobri ali.
Cidade do Porto, Centro. Portugal
Desci de frente a torre dos Clérigos que é uma piroca como o obelisco de ipanema com milhares de anos. De frente a ele me indicavam um hostel baratinho afinal havia me prometido que iria compensar os exageros de grana na semana. “Tem este aqui de 20 euros, com casa de banho e vista para a rua”.”Mas não tenho este dinheiro todo moço””Então fica com este aqui por 15 euros.” Um quadradinho, com pia, cama, uma mesinha de cabeceira e uma cadeira. As cobertas velhas eram finas e a única janela tinha o tamanho e um palmo. Larguei tudo lá e saí vadio, sem mapa nem nada pelas ruas, sentindo o sabor de estar perdido em uma cidade que não é sua, cheia de coisas para descobrir. De cara o bondinho antigo quase me atropela e desce as ruas varado. Vou seguindo seus trilhos e as pequenas ruelas da “Invicta” são se mostrando pra mim. Flores nas janelas, roupas também, carros, jovens nas ruas, tudo funcionando em harmonia. Tudo isso até chegar a ribeira, local onde eu tinha uma imagem na cabeça e precisava vê-la. E foi lá, sob a ponte que encontrei aquele cais, com barcos antigos, cheios de barril, casarios coloridos, caves de carvões e tudo que sempre vemos de porto. O sol ia embora e fiz umas fotos meio abestalhado com o lugar. Convicto das economias fui ao mercado e mandei ver no pão, sardinha e vinho e tava tudo relativamente bem quando encontrei o banheiro. Era velho, mal iluminado, sem box, somente a banheira com o chuveirinho. Eita, fica pra amanhã.
Depois de rodar e rodar pela ribeira e constatar que ali já foi point me mandei ladeira acima em direção a universidade, no piolho, mini bairro onde a rapaziada de porto mesmo entorna. Foi lá que conheci os tunas, que são rapazes que usam uma túnica e dão rote nos calouros. Nem precisa dizer que além de tocar com eles, dar trote no calouros também e ainda mandei uma: “Onde que compra uma roupa destas de harry potter?”Só eu ri. Mesmo assim fiz amigos ali e fui pra casa bêbado às 4h da manhã.
Era pra eu ir embora mas não fui. Logo constatei que as pessoas em portugal se tornam mais abertas a diálogo conforme vamos subindo o país. Havia ficado com uma ótima impressão dali principalmente por muitos que encontrei. O pessoal da tuna me ofereceu até abrigo e uma vaga no ensaio com eles. Toquei “Veja bem, meu bem” do Los Hermanos e eles queriam gravar. Por isso o segundo dia tinha tudo para ser fantástico e mesmo acordando às duas estava bem disposto. Subi ladeira pra cacete, vi porto de cima, de lado, de tudo que é jeito e deixei apenas as caves com os vinhos para depois. Havia neste meio tempo conhecido um carioca, que estava a atravessar a passadeira como eu e foi interpelado por mim. Me prometeu um tour pela frança, onde ele estuda. Eu estava indo encontrar mais três estudantes de Londres, paulistas, que também passeavam por ali. E foi com eles que inciei a night, sem tomar banho de novo porque não dava pra encarar aquela porra. Vimos o jogo do Porto contra o atlético de Madrid. Desde cedo os espanhóis enchiam o saco fazendo barulho pela cidade. E eles foram eliminados apesar do empate e joguinho mixuruca. Dali para uma festa do curso de direito lá na puta que pariu. Demos um trote no trem pois não pagamos e ficamos de olho caso viesse algum fiscal, também atravessamos o trilho andando e mijamos na rua, marginalidade total, que acabou com drinks de graça da portuguesa gordinha que sonhava conhecer o Brasil e trabalhava como garçonete na festa. Depois de dormi no táxi com eles, fui descendo até meu hostel com a certeza que o melhor que a vista ou a paisagem do porto, são as pessoas que descobri ali.
Cidade do Porto, Centro. Portugal
domingo, 8 de março de 2009
TAMANHO FAMILIA
Se ontem dormi com soluço hoje acordei com ele também. Uma ressaca infernal que me deixou muito enjoado logo no dia que combinei com meu pacato amigo marcelo ir em óbidos. Estradas em ziguezague durante uma hora que me faziam lembrar o que eu tinha comido toda hora. Tivemos um domingo lindo, em família, pois a Miriam namorada dele, levou o irmão e a filha para passear. Coitada das crianças vendo o tio ali, feito um pato engasgado, acreditando que eu estava doente. Fui melhorando a medida que as emoções iam acontecendo. Pela primeira vez vi uma hélice de energia eólica. Enorme. Pensei no meu trabalho e tudo que estudei sobre energia renovável. Contei para as crianças que ali fazia frio porque tinham aqueles ventiladores ligados e elas acreditaram. (hahahah)
Óbidos é Paraty dentro da muralha. A arquitetura colonial cercada por muros de todo canto onde nós andamos sobre elas de um lado pro outro. Tinha um festival do chocolate por lá e a cidade, sempre quieta, estava bem movimentada. O soluço ia e vinha conforme eu tomava coca-cola. Diz Marcelo que é o frio e eu acredito em qualquer porra quando to doente. Como era uma viagem mais para o norte, resolvemos também ira a Batalha, esta sim uma grande surpresa. Um mosteiro enorme,com um grande calaveiro guardando sua praça nos esperava mais quentinha, com o sol animando as crianças andando de trotenete, ou patinete no Brasil. Lindo, bucólico. Dentro, o mesmo sentimento de paz e surpresa ao ver os claustros, parecidos com o do Mosteiro dos Geronimos. Tenho gostado do cara e das influencias manuelitas que acompanham estas igrejas. São grandes sim mas transmitem paz e não onipresença.
Saí de lá com pena, levando o sol conosco e uma surpresa agradável, cheia de fotos com crianças que a esta hora já aprontavam comigo e zoneavam o silencio do mosteiro.
Terminamos o dia em Fátima que é bacana e tal mas não se compara a cidade anterior. Vimos alguns romeiros chegando de mãos dadas cantando, descendo o pátio emocionados. Foi bonito. Lembrei da minha avó, primeira comunhão e comprei o primeiro presente pra ela. Já avisei ao povo que estou indo de mochila portanto não serei aquele sujeito que chega cheio de muambas, tenha certeza. Decidi por um terço que tem um eterno perfume das rosas, dois escapulários, um pra Graça também que me deu este que estou usando, e uma fitinha que vou amarrar na minha mochila. Depois desta via crucis cansativa mas extremamente reveladora e feliz na presença deste amigos que me aturam segurando vela e pedindo pra ir aqui e ali, terminando a noite de uma maneira tradicional: fomos ao mc donald´s. O que mais você pensou, ora pois?
Óbidos é Paraty dentro da muralha. A arquitetura colonial cercada por muros de todo canto onde nós andamos sobre elas de um lado pro outro. Tinha um festival do chocolate por lá e a cidade, sempre quieta, estava bem movimentada. O soluço ia e vinha conforme eu tomava coca-cola. Diz Marcelo que é o frio e eu acredito em qualquer porra quando to doente. Como era uma viagem mais para o norte, resolvemos também ira a Batalha, esta sim uma grande surpresa. Um mosteiro enorme,com um grande calaveiro guardando sua praça nos esperava mais quentinha, com o sol animando as crianças andando de trotenete, ou patinete no Brasil. Lindo, bucólico. Dentro, o mesmo sentimento de paz e surpresa ao ver os claustros, parecidos com o do Mosteiro dos Geronimos. Tenho gostado do cara e das influencias manuelitas que acompanham estas igrejas. São grandes sim mas transmitem paz e não onipresença.
Saí de lá com pena, levando o sol conosco e uma surpresa agradável, cheia de fotos com crianças que a esta hora já aprontavam comigo e zoneavam o silencio do mosteiro.
Terminamos o dia em Fátima que é bacana e tal mas não se compara a cidade anterior. Vimos alguns romeiros chegando de mãos dadas cantando, descendo o pátio emocionados. Foi bonito. Lembrei da minha avó, primeira comunhão e comprei o primeiro presente pra ela. Já avisei ao povo que estou indo de mochila portanto não serei aquele sujeito que chega cheio de muambas, tenha certeza. Decidi por um terço que tem um eterno perfume das rosas, dois escapulários, um pra Graça também que me deu este que estou usando, e uma fitinha que vou amarrar na minha mochila. Depois desta via crucis cansativa mas extremamente reveladora e feliz na presença deste amigos que me aturam segurando vela e pedindo pra ir aqui e ali, terminando a noite de uma maneira tradicional: fomos ao mc donald´s. O que mais você pensou, ora pois?
PRICELESS. OUR NOT.
Aqui em São Marcos sempre ando de comboio mas acabo indo para Lisboa com suas ruas fantásticas. Mas hoje não. Peguei o rumo inverso e saí para Sintra, um bairro próximo. Na encosta da montanha, logo que vi uma enorme fortaleza de pedras logo teria que andar pra cacete. Mas desta vez fui facilitado por trenzinhos que, apesar de estar gastando uns euros. Valem a pena. Cheguei ao Castelos do Mouros, aqueles árabes que moravam aqui antes da tomada de portugal. O bicho é enorme, alto pra burro, com aqueles pátios enormes que a gente só vê em videogame. Sozinho fui cruzando com gente do mundo todo e mais disposto a trocar informações uma vez que irei em breve pra espanha. “You can…can…picture…”caralho, até agora não sei como se pede pra alguém bater uma foto pra mim. Fui no gesto e na boa vontade mesmo e deu certo. Além disso fiquei craque no timer da máquina o que facilita bastante. Subindo aquela porra toda me deu um aperto no coração novamente, como todos os dias, por não ter uma pessoa querida por perto mas tenho feito algo que resulta muito. Cada vez que penso em alguém, específicamente, faço um video como se estivesse falando com ela. É a maneira eficiente de não se sentir só. Depois do castelo subi mais um pouco até chegar no palácio da pena, ou algo assim. Se um era imponente por suas paredes de pedra, que são anteriores até que os romanos, este é inesquecível pela delicadeza. Casa que a família real vinha quando enchia o saco de lisboa, o interior que não pude fotografar era cheio de bibelô, muito parecido com o que a gente entende como a casa da avó só que em tamanho GG. Vi, bem na subida, três meninas, uma bonita, uma engraçada e a outra delicada. Foram gentis tirando minha foto e depois me acompanharam o tur. Impossível não rolar uma conversa. Vieram de braga, uma espécie de campo grande de portugal. O papo rendeu uma pizza, uma viagem de trem e acabou na night fervente lusitana, nas docas, debaixo da ponte vasco da gama. Ah, boate aqui é coisa de puta, fomos a uma discoteca.
Bem diferente do Rio, aqui elas são menores e servem drink verpertinos de graça. Em compensação, 3,50 euros uma mini tulipa de cerveja. Comprei uns canecões porque sou turista e tava pouco me fudendo pra quem olhasse e dancei pra cacete. Umas mulheres sobem nas mesas e dançam com uma bundinha de codorna virada pra gente. Depois é a vez de um viadão paneleiro fazer a performance. O clima lá dentro é esquisito: ninguém chega em ninguém, o povo fuma pra caralho e não bebe. O oposto da guerra que é o west show. Por falar nisso tocou “cidade de deus é ruim de invadir…”Vê se pode… As meninas de Braga, animadas no ponto certo garantiram uma noite feliz até decidirem partir umas 3h.Adeus queridas, nos vemos em Porto. Eu já tinha bebido tudo que vi pela frente, conhecido gente, entrado em boate de graça e o quando me peguei totalmente bebado, sem ninguém e…com soluço…porra, nunca tive isso e agora o soluço não passava. Comi, comi e nada. Entrei no taxi que me deixou na praça porque iria cobrar caro. Foi pior: deu vontade de mijar também.
Andei para um lado e outro. Nada de banheiro. Lembrei do meu amigo Ian que já mijou no colisseu e mandei uma regada na árvore bem na praça dos restauradores, todo feliz. Peguei outro taxi e fiquei sóbrio quando fiz a conta de uma nightzinha qualquer: 200 reais. Não tem preço?é ruim hein mané...
Bem diferente do Rio, aqui elas são menores e servem drink verpertinos de graça. Em compensação, 3,50 euros uma mini tulipa de cerveja. Comprei uns canecões porque sou turista e tava pouco me fudendo pra quem olhasse e dancei pra cacete. Umas mulheres sobem nas mesas e dançam com uma bundinha de codorna virada pra gente. Depois é a vez de um viadão paneleiro fazer a performance. O clima lá dentro é esquisito: ninguém chega em ninguém, o povo fuma pra caralho e não bebe. O oposto da guerra que é o west show. Por falar nisso tocou “cidade de deus é ruim de invadir…”Vê se pode… As meninas de Braga, animadas no ponto certo garantiram uma noite feliz até decidirem partir umas 3h.Adeus queridas, nos vemos em Porto. Eu já tinha bebido tudo que vi pela frente, conhecido gente, entrado em boate de graça e o quando me peguei totalmente bebado, sem ninguém e…com soluço…porra, nunca tive isso e agora o soluço não passava. Comi, comi e nada. Entrei no taxi que me deixou na praça porque iria cobrar caro. Foi pior: deu vontade de mijar também.
Andei para um lado e outro. Nada de banheiro. Lembrei do meu amigo Ian que já mijou no colisseu e mandei uma regada na árvore bem na praça dos restauradores, todo feliz. Peguei outro taxi e fiquei sóbrio quando fiz a conta de uma nightzinha qualquer: 200 reais. Não tem preço?é ruim hein mané...
sexta-feira, 6 de março de 2009
ALTOS E BAIXOS
O Zé Carioca, piriquito do Marcelo não entendeu nada. Olhei pra ele, dei bom-dia, horas depois voltei e dei boa tarde. Com os pés ainda ardendo em bolha e o quarto quentinho, silencioso e escuro foi impossível ter disposição para enfrentar a ventania e o tempo mal humorado que estava lá fora. Perdi o encontro com uma grande e nova amiga mas como uma boa carioca ela vai relevar. Pago um chopp depois moça…Mas exagerei e levantei pelas 16h. Bateu uma cobrança de estar dormindo e perdendo um dia de europa e lá fui eu correndo, querendo ganhar o mundo, sem desperdiçar uma gota. Ia para Sintra mas como estava com o cartão de transportes que valia somente para lisboa resolvi subir o monte e chegar ao castelo de são jorge, que desde a minha chegada, me olhava de rabo de olho lá de cima. De fato uma vista fantástica, ideal para namorar, beijar na boca, mas como estavamos só eu e minha mochila, segui adiante, explorando seus labirintos de paredões e torres. Mais um lindo lugar nesta terra que estou aprendendo a gostar cada dia mais.
Na saída dois casais brasileiros fazendo pose de turista me pediram para tirar umas fotos. “É brasileiro?Carioca?Torce pro mengão?Então senta aí…”Cardiologistas que vieram pra um congresso e estavam aproveitando um tempo vago. Foi bom para pegar dicas precisosas sobre Paris e Roma ealém do incentivo a apertar um baseado em amsterdam. “Bicho, come também um bolo que eles fazem lá. Mais vai devagar que o efeito é lento e prolongado”. Papo bom demais que levou o sol embora e trouxe uma noite gelada. Como me sobrava gás desci até a a esplanada da figueira, vi uns livros usados, experimentei o mal humor típicos dos lusitanos e resolvi voltar ao bairro alto, onde deveria ter aquela hora algum movimento. Antes, fui surpreendido por uma esquina muito cheia com pessoas bebendo na rua, igual ao Rio. Tomavam uma cachacinha, como uma catuaba, feita pelo próprio dono do bar. Uma só já deu o grau e subi de carreira por trás do elevador de santa justa, que prometi nunca mais pagar por ele. Chegando no largo de Camões tentei encontrar o Fernando Pessoa, ou melhor, a estátuta dele que tantos falam. Ela esta na frente do café brasileira. Rodei muito, fui e voltei e a porra do café nem dava sinal. Rodei tanto que entrei no bairro alto e comecei a ver uns bares onde possivelmente mais tarde vai rolar um pancadão. Tava com muita vontade de mijar mas muitos hábitos brasileiros aqui não colam e fazer isso na rua é um deles. Então dei de cara com um botecão onde estava escrito FADO VADIO. Na hora me lembrei dos cães vadios, um grupo de vagabundos adolescentes que eu era componentes. Grandes caras, se estivessem aqui talvez fôssemos presos por baderna ou algo assim. Lá dentro uma brasileira, da minha idade servia os velhos beberrões. O bar era estilo boteco mesmo, mas no meio de tanta coisa chique tinha seu charme. Mijei, bebi umas duas cervejas e desci a ladeira para ir embora. Já estava contente com o rendimento do meu dia mas adivinhe quem fez psiu pra mim?O próprio Fernandinho…nunca li nada dele porque todo pseudointelectual o cita como Deus. Isso me afasta. Deve ser por isso que ele nem sorriu pra foto. Foda-se também. Eu vou pra casa e ele vai passar a noite ali sentado. Amanhã vou para Sintra…ou para o oceanário?Não existe destino melhor que a liberdade de escolhe-lo.
São Marcos, Portugal.
Na saída dois casais brasileiros fazendo pose de turista me pediram para tirar umas fotos. “É brasileiro?Carioca?Torce pro mengão?Então senta aí…”Cardiologistas que vieram pra um congresso e estavam aproveitando um tempo vago. Foi bom para pegar dicas precisosas sobre Paris e Roma ealém do incentivo a apertar um baseado em amsterdam. “Bicho, come também um bolo que eles fazem lá. Mais vai devagar que o efeito é lento e prolongado”. Papo bom demais que levou o sol embora e trouxe uma noite gelada. Como me sobrava gás desci até a a esplanada da figueira, vi uns livros usados, experimentei o mal humor típicos dos lusitanos e resolvi voltar ao bairro alto, onde deveria ter aquela hora algum movimento. Antes, fui surpreendido por uma esquina muito cheia com pessoas bebendo na rua, igual ao Rio. Tomavam uma cachacinha, como uma catuaba, feita pelo próprio dono do bar. Uma só já deu o grau e subi de carreira por trás do elevador de santa justa, que prometi nunca mais pagar por ele. Chegando no largo de Camões tentei encontrar o Fernando Pessoa, ou melhor, a estátuta dele que tantos falam. Ela esta na frente do café brasileira. Rodei muito, fui e voltei e a porra do café nem dava sinal. Rodei tanto que entrei no bairro alto e comecei a ver uns bares onde possivelmente mais tarde vai rolar um pancadão. Tava com muita vontade de mijar mas muitos hábitos brasileiros aqui não colam e fazer isso na rua é um deles. Então dei de cara com um botecão onde estava escrito FADO VADIO. Na hora me lembrei dos cães vadios, um grupo de vagabundos adolescentes que eu era componentes. Grandes caras, se estivessem aqui talvez fôssemos presos por baderna ou algo assim. Lá dentro uma brasileira, da minha idade servia os velhos beberrões. O bar era estilo boteco mesmo, mas no meio de tanta coisa chique tinha seu charme. Mijei, bebi umas duas cervejas e desci a ladeira para ir embora. Já estava contente com o rendimento do meu dia mas adivinhe quem fez psiu pra mim?O próprio Fernandinho…nunca li nada dele porque todo pseudointelectual o cita como Deus. Isso me afasta. Deve ser por isso que ele nem sorriu pra foto. Foda-se também. Eu vou pra casa e ele vai passar a noite ali sentado. Amanhã vou para Sintra…ou para o oceanário?Não existe destino melhor que a liberdade de escolhe-lo.
São Marcos, Portugal.
quinta-feira, 5 de março de 2009
MILAGRE DE SÃO JERÔNIMO
Agorinha mesmo passou na passarela um brasileiro tremendo de frio, andando de meias pela rua com os sapatos e um saco gigante nas mãos. Era eu. O filho da puta do tênis que custou 200 pratas arrebentou todo o meu pé e foi uma delícia andar com 8 graus na rua somente com as meias compradas no china. Cruzei com uma família de pretos (aqui tem muitos vindos da África), no momento que pequena fazia uma dança daquelas esquisitas na rua mas ninguém via porque ninguém chamava mais atenção que o manco aqui.
O pé começou a doer eram 12h, quando eu havia acabado de desistir de andar adiante na rua da liberdade. Cheguei aos pés do Marquês de Pombal, grande cara que reconstruir Lisboa, e senti uma fisgada no calcanhar. Mas a vista de Lisboa era tão linda que deixei pra lá. Descendo preferir tomar um metro para fazer valer o investimento de 10 euros que tinha feito em um cartão e não havia usado. Nada. Nada de novo. Putz. O portuga me passou a perna. Fui direto para a praça do comércio e me deparei com uma obra em volta de tudo. Putz de novo. Fiquei muito surpreso em ver que o César Maia veio parar aqui. Não me restou alternativa. Depois de comer uns sanduíches feito em casa que tive que dividir com as gaivotas barulhentas na beira do Tejo, peguei um comboio (ônibus) para Belém até agora, o lugar que mais me impressionou.
Tenho fascínio pelo descobrimento do Brasil e não pude conter a emoção ao ver o monumento em homenagem ao descobrimento. Sempre que via nos livros imaginava algo do tamanho natural, sem-gracinha até. Mas foi ver o tamanho do pé do jesuíta ao meu lado para ser tomado por um calafrio instantâneo. Estavam lá todos os personagens que habitavam minha imaginação nas aulas de história do Rosário, onde ainda contavam que os portugueses descobriram o Brasil por engano. Lindo mesmo. Pedi para um japa bater minha foto depois da dica preciosa da minha amiga chilena (“eles são ótimos com máquinas e sempre contam até três antes de bater”) e fiquei ali, parado feito um pau Brasil, contemplando com os olhos vibrantes aquele marco na minha viagem, depois do calo, claro.
Atravessei o jardim, fiz umas fotos sozinho com o timer da máquina porque nenhum adolescente português se ofereceu a fazer e me arrastei para o museu da marinha onde teriam réplicas das naus. Senti falta dos playmobils que eu tinha pois eram tão pequenas que poderiam estar na piscina da minha casa. Frustrado entrei no mosteiro dos Jerônimos pedindo para o santo, que é meio sinistro, ligado a xangô na macumbra, pra dar um jeito na dor que me tiraria do circuito tão cedo. E ele fez. Primeiro pela absoluta beleza que encontrei. Um pátio central, todo e completamente branco, com um pequeno chafariz e gramado no centro. Tive a sensação que iria encontrar um unicórnio a qualquer momento de tão mágico. Era impossível não sentir paz naquele lugar, tanto que me sentei sozinho para observar cada detalhe do que chamam de ponto alto do período Manuelito. Mas o segundo motivo foi ainda melhor. Na saída, agradecendo ao São Jê pela força ouço algo tão familiar que olhei pra trás por impulso. Uma carioca!Legítima, da gema, da Gávea. Ia para o marco do descobrimento. Prometi levar desde que me fizesse companhia até a torre de belém. Fechadão, belezinha, maneiro, e tome gíria.
Isabele é dona de um par de bilhas verdes, um senso de humor maravilhoso e cheia daquela ginga da galerinha do baixo. Dei sorte porque a gaja faz artes e tem muitas idéias para fotos. Falamos do mochilão, o dela terminando pra variar, do Rio, de Lisboa e foto vai e foto vem, já estávamos na torre de Belém, empuleirados no beiral fotografando o início do pôr do sol. Uma hora depois, no comboio, indo de volta a Lisboa, onde eu a apresentaria o resto que ela não viu, justo nesta hora, no meio de tanta gente diferente, com pretos falando seus dialetos e portugueses falando com dentes presos, lembrei de Supertramp e sua aventura no Alaska. “A felicidade só existe quando é compartilhada” escreveu ele antes de morrer. Ela ali de costas, intertida, hora ou outra virava-se pra mim, sacananeando pela grande distância percorrida, com tantos prédios de azulejos passando correndo, me bateu o coração, não por ela claro, mas pela vontade de estar com alguém que se ama.
Fomos coroados com um céu absurdamente azul e muita gargalhada com a confusão da língua em momentos de informação(Você pagou este título no payshop?"O que?PetSohp?Não, nem tenho bicho de estimação"). Amanhã na frente do Mc Donald encontro Isabela novamente para ir ao Castelo de São Jorge, feliz pela amizade instantânea e pelos novos tênis que comprarei. Ah, sim, foi só ela ir embora para eu perceber que além dos calos também haviam duas grandes bolas na sola devido ao tanto tempo andando na ponta dos pés. Quando a família de pretos me viu chegar, cheio de sacos de compras com o tênis na mão, deveriam ter percebido que apesar de estar com meias no chão eu também estava com a cabeça nas nuvens.
São Marcos, Portugal
O pé começou a doer eram 12h, quando eu havia acabado de desistir de andar adiante na rua da liberdade. Cheguei aos pés do Marquês de Pombal, grande cara que reconstruir Lisboa, e senti uma fisgada no calcanhar. Mas a vista de Lisboa era tão linda que deixei pra lá. Descendo preferir tomar um metro para fazer valer o investimento de 10 euros que tinha feito em um cartão e não havia usado. Nada. Nada de novo. Putz. O portuga me passou a perna. Fui direto para a praça do comércio e me deparei com uma obra em volta de tudo. Putz de novo. Fiquei muito surpreso em ver que o César Maia veio parar aqui. Não me restou alternativa. Depois de comer uns sanduíches feito em casa que tive que dividir com as gaivotas barulhentas na beira do Tejo, peguei um comboio (ônibus) para Belém até agora, o lugar que mais me impressionou.
Tenho fascínio pelo descobrimento do Brasil e não pude conter a emoção ao ver o monumento em homenagem ao descobrimento. Sempre que via nos livros imaginava algo do tamanho natural, sem-gracinha até. Mas foi ver o tamanho do pé do jesuíta ao meu lado para ser tomado por um calafrio instantâneo. Estavam lá todos os personagens que habitavam minha imaginação nas aulas de história do Rosário, onde ainda contavam que os portugueses descobriram o Brasil por engano. Lindo mesmo. Pedi para um japa bater minha foto depois da dica preciosa da minha amiga chilena (“eles são ótimos com máquinas e sempre contam até três antes de bater”) e fiquei ali, parado feito um pau Brasil, contemplando com os olhos vibrantes aquele marco na minha viagem, depois do calo, claro.
Atravessei o jardim, fiz umas fotos sozinho com o timer da máquina porque nenhum adolescente português se ofereceu a fazer e me arrastei para o museu da marinha onde teriam réplicas das naus. Senti falta dos playmobils que eu tinha pois eram tão pequenas que poderiam estar na piscina da minha casa. Frustrado entrei no mosteiro dos Jerônimos pedindo para o santo, que é meio sinistro, ligado a xangô na macumbra, pra dar um jeito na dor que me tiraria do circuito tão cedo. E ele fez. Primeiro pela absoluta beleza que encontrei. Um pátio central, todo e completamente branco, com um pequeno chafariz e gramado no centro. Tive a sensação que iria encontrar um unicórnio a qualquer momento de tão mágico. Era impossível não sentir paz naquele lugar, tanto que me sentei sozinho para observar cada detalhe do que chamam de ponto alto do período Manuelito. Mas o segundo motivo foi ainda melhor. Na saída, agradecendo ao São Jê pela força ouço algo tão familiar que olhei pra trás por impulso. Uma carioca!Legítima, da gema, da Gávea. Ia para o marco do descobrimento. Prometi levar desde que me fizesse companhia até a torre de belém. Fechadão, belezinha, maneiro, e tome gíria.
Isabele é dona de um par de bilhas verdes, um senso de humor maravilhoso e cheia daquela ginga da galerinha do baixo. Dei sorte porque a gaja faz artes e tem muitas idéias para fotos. Falamos do mochilão, o dela terminando pra variar, do Rio, de Lisboa e foto vai e foto vem, já estávamos na torre de Belém, empuleirados no beiral fotografando o início do pôr do sol. Uma hora depois, no comboio, indo de volta a Lisboa, onde eu a apresentaria o resto que ela não viu, justo nesta hora, no meio de tanta gente diferente, com pretos falando seus dialetos e portugueses falando com dentes presos, lembrei de Supertramp e sua aventura no Alaska. “A felicidade só existe quando é compartilhada” escreveu ele antes de morrer. Ela ali de costas, intertida, hora ou outra virava-se pra mim, sacananeando pela grande distância percorrida, com tantos prédios de azulejos passando correndo, me bateu o coração, não por ela claro, mas pela vontade de estar com alguém que se ama.
Fomos coroados com um céu absurdamente azul e muita gargalhada com a confusão da língua em momentos de informação(Você pagou este título no payshop?"O que?PetSohp?Não, nem tenho bicho de estimação"). Amanhã na frente do Mc Donald encontro Isabela novamente para ir ao Castelo de São Jorge, feliz pela amizade instantânea e pelos novos tênis que comprarei. Ah, sim, foi só ela ir embora para eu perceber que além dos calos também haviam duas grandes bolas na sola devido ao tanto tempo andando na ponta dos pés. Quando a família de pretos me viu chegar, cheio de sacos de compras com o tênis na mão, deveriam ter percebido que apesar de estar com meias no chão eu também estava com a cabeça nas nuvens.
São Marcos, Portugal
quarta-feira, 4 de março de 2009
PEQUENO E DELICIOSO
- Dorme porque tá um temporal lá fora.
Nem foi preciso o Marcelo me falar de novo. Desde uma semana antes de viajar não dormia sossegado, hoje sim. Logo ao acordar me apaixonei pela primeira vez. O fiambre daqui é inesquecível. No Brasil se chama presunto mas nem dá pra comparar uma coisa e outra.
Arrumadinho, cheirozinho, máquina na mão, dinheiro no bolso e escondido, mochila nas costas. Pronto para embarcar pela primeira vez sozinho mesmo em Lisboa. Nem foi preciso andar muito pra me embananar. Carreguei o cartão do metro achando que era do comboio (trem), não conseguia comprar nada na maquininha inteligente e ainda tentaram me assaltar…é isso mesmo. Pior , foi um portuga. Cercou de um lado, pergunta de outro, mas carioca que sou dei um tapinha nas costas dele e disse simplesmente: valeu irmão!
Fui direto para o Baixo Chiado em direção de um praça linda que tem ali. De longe, o Tejo emoldurava a cidade. Fiquei emocionado com aquilo tudo. No alto, o castelo também me observava. Me lembrei do abrigo nazareno e da caixa d´água em campo grande que sempre estiveram cercando minha casa. Deu vontade de rir sozinho. Fui andando meio sem rumo e logo vi em todo lugar os azulejos portugueses, a arquitetura que tanto temos referencia no Brasil, um mescla de novo e velho, letreiros digitais sob casarões milenares. Segui rumo ao rio imaginando ser aquele o caminho principal mas bastou andar 100 metros para tudo mudar de direção. Um elevador colossal, no meio de prédios, todo de ferro, lindo mesmo, estava com suas portas abertas e sua imponência me chamando. Caro pra dedéu, 3 euros, mas tudo que ele me reservou valeu muito mais que isso.
Depois de muitas tentativas frustradas de tirar uma foto que enquadrasse o castelo de são jorge e a praça de rossio e eu, fui ajudado por um casal de gringos e assim começaram as trocas de máquina naquela torre de babel do elevador. No meio destes tantos uma pequena me pediu para fotografar e em seguida emendamos um papo que terminou quase agora. Fomos percorrendo ruelas do Chiado e da baixa pombalina, entre escombros da igreja e praça de Luis de Camões conversando aliviadamente. Tinhamos os mesmos objetivos sendo que ela indo pra casa e eu chegando na europa. Impressionante como os latino americanos se identificam pelo cheiro. Mesmo com ela hablando seu espanhol legítimo e eu sem arriscar uma palavra que aprendi no cursinho nos demos bem, apesar de não encontrarmos mais o elevador. Já estava satisfeito de ter conhecido Karin, a chilena, mas a Santa Providência move as peças sob esta cidade tão abençoada por santos, e logo em seguida nos encontramos com natália, sob o portal da cidade. A espanhola que falava mais rápido e não entendia bulufas do que eu dizia, mas riamos tanto juntos que me senti em um seriado americano cheio de claquetes rizonhas e sem graça. Paramos no chatô do Chapitô, lá na encosta do castelo, tomando uma breja local e provando uns tapas de bacalhau. Karin ia embora às 21h e fizemos sua despedida sob as luzes da cidade, mirando a ponte vasco da gama ao fundo. Natalia é de Salamanca e me ofereceu prontamente um pouso em sua casa. Prometi aparecer por lá. Assim, cheia de surpresas minha viagem vai ganhando aos poucos novas direções, cada vez mais interessantes. Acompanhei a chilena até seu ponto e nos despedimos como velhos amigos. Nesta hora a baixa já se silenciava, com ventos limpando suas ruas e levando consigo um dia pequeno e tão delicioso quanto fiambre português.
São Marcos, Portugal
Nem foi preciso o Marcelo me falar de novo. Desde uma semana antes de viajar não dormia sossegado, hoje sim. Logo ao acordar me apaixonei pela primeira vez. O fiambre daqui é inesquecível. No Brasil se chama presunto mas nem dá pra comparar uma coisa e outra.
Arrumadinho, cheirozinho, máquina na mão, dinheiro no bolso e escondido, mochila nas costas. Pronto para embarcar pela primeira vez sozinho mesmo em Lisboa. Nem foi preciso andar muito pra me embananar. Carreguei o cartão do metro achando que era do comboio (trem), não conseguia comprar nada na maquininha inteligente e ainda tentaram me assaltar…é isso mesmo. Pior , foi um portuga. Cercou de um lado, pergunta de outro, mas carioca que sou dei um tapinha nas costas dele e disse simplesmente: valeu irmão!
Fui direto para o Baixo Chiado em direção de um praça linda que tem ali. De longe, o Tejo emoldurava a cidade. Fiquei emocionado com aquilo tudo. No alto, o castelo também me observava. Me lembrei do abrigo nazareno e da caixa d´água em campo grande que sempre estiveram cercando minha casa. Deu vontade de rir sozinho. Fui andando meio sem rumo e logo vi em todo lugar os azulejos portugueses, a arquitetura que tanto temos referencia no Brasil, um mescla de novo e velho, letreiros digitais sob casarões milenares. Segui rumo ao rio imaginando ser aquele o caminho principal mas bastou andar 100 metros para tudo mudar de direção. Um elevador colossal, no meio de prédios, todo de ferro, lindo mesmo, estava com suas portas abertas e sua imponência me chamando. Caro pra dedéu, 3 euros, mas tudo que ele me reservou valeu muito mais que isso.
Depois de muitas tentativas frustradas de tirar uma foto que enquadrasse o castelo de são jorge e a praça de rossio e eu, fui ajudado por um casal de gringos e assim começaram as trocas de máquina naquela torre de babel do elevador. No meio destes tantos uma pequena me pediu para fotografar e em seguida emendamos um papo que terminou quase agora. Fomos percorrendo ruelas do Chiado e da baixa pombalina, entre escombros da igreja e praça de Luis de Camões conversando aliviadamente. Tinhamos os mesmos objetivos sendo que ela indo pra casa e eu chegando na europa. Impressionante como os latino americanos se identificam pelo cheiro. Mesmo com ela hablando seu espanhol legítimo e eu sem arriscar uma palavra que aprendi no cursinho nos demos bem, apesar de não encontrarmos mais o elevador. Já estava satisfeito de ter conhecido Karin, a chilena, mas a Santa Providência move as peças sob esta cidade tão abençoada por santos, e logo em seguida nos encontramos com natália, sob o portal da cidade. A espanhola que falava mais rápido e não entendia bulufas do que eu dizia, mas riamos tanto juntos que me senti em um seriado americano cheio de claquetes rizonhas e sem graça. Paramos no chatô do Chapitô, lá na encosta do castelo, tomando uma breja local e provando uns tapas de bacalhau. Karin ia embora às 21h e fizemos sua despedida sob as luzes da cidade, mirando a ponte vasco da gama ao fundo. Natalia é de Salamanca e me ofereceu prontamente um pouso em sua casa. Prometi aparecer por lá. Assim, cheia de surpresas minha viagem vai ganhando aos poucos novas direções, cada vez mais interessantes. Acompanhei a chilena até seu ponto e nos despedimos como velhos amigos. Nesta hora a baixa já se silenciava, com ventos limpando suas ruas e levando consigo um dia pequeno e tão delicioso quanto fiambre português.
São Marcos, Portugal
terça-feira, 3 de março de 2009
CAINDO A FICHA
Vi a Europa pela primeira vez pela greta da janela do chinês ao lado, toda iluminada. Queria ter visto a África mas ele fechou nessa hora. A viagem foi boba, com um gringo de botas de esquiar do meu lado e o desenho da sininho na telinha. Já na fila de imigração foi diferente: a brasileirada toda junta. Muita puta, antes de mais nada. Com tatuagem no pescoço, Dolce & Gabanna na calcinha, tinha de tudo. Pra elas nada, pra mim uma porrada de perguntas. Cada vez que um oficial passava, era questionado. Finalmente achei minha mochila com a bandeirinha do Brasil e também achei o Marcelo, meu amigo brasuca-portuga, no portão de desembarque.
A saída do aeroporto é como São Paulo, com direito a COBAL e tudo. Fomos direto para São Marcos onde este gajo mora e não via nada demais em lugar nenhum. Sangue frio pra conhecer tudo, inclusive a hospitalidade amável do meu amigo. Mais uma volta de reconhecimento pelo bairro onde trabalha e tudo era tão familiar que parecia um passeio pelo Jabour.
Então posso voltar e te dizer tudo de novo: Vi a Europa pela primeira vez na Boca do Diabo, em cascais. Um enorme buraco no meio das rochas, milenares, onde o mar bate cansado sabendo que ali não tem vez. Vi gaivota, vi turista, vi um mar azul escuro absolutamente imponente. E tudo isso ficará na memória pra sempre. Aliás só nela porque as pilhas compradas aqui nem rolaram com a minha câmera. Nenhuma foto. Seguindo para o lugar onde A Europa é mais brasileira, pois o Cabo da Roca é a ponta do nariz do velho continente embicado pra nossas terras. Nada de foto. Porra, nem uma a máquina deixava. Já eram horas sem dormir e tudo incomodava, principalmente minha cueca que, por estarem todas na mala, era frouxa e descia e subia dentro das calças. Só fui esquece-la depois da primeira cerveja no pub onde um gordo brasileiro meio chato comandava o videokê. Ali conheci mais gente que está tentando a vida como pode, vi a união desta galera, um misto de cadeia com BBB, e vi todos reclamando da crise, numa constante intermitente. Eu era o turista, meio sem sal no meio de tantos como eu que acabou cantando “exagerado” sem sucesso, recebendo palmas burocráticas. Deu saudade da minha banda, dos meus amigos e do colo quente. Mas amanhã novas expectativas: irei a lisboa, já troquei as pilhas e encontrarei muitos turistas mochileiros como eu. Ah, também abandonei a cueca em algum lugar e aderi a umas ceroulas quentinhas. Só assim o saco fica quente e não cheio.
Bairro São Marcos, Portugal.
A saída do aeroporto é como São Paulo, com direito a COBAL e tudo. Fomos direto para São Marcos onde este gajo mora e não via nada demais em lugar nenhum. Sangue frio pra conhecer tudo, inclusive a hospitalidade amável do meu amigo. Mais uma volta de reconhecimento pelo bairro onde trabalha e tudo era tão familiar que parecia um passeio pelo Jabour.
Então posso voltar e te dizer tudo de novo: Vi a Europa pela primeira vez na Boca do Diabo, em cascais. Um enorme buraco no meio das rochas, milenares, onde o mar bate cansado sabendo que ali não tem vez. Vi gaivota, vi turista, vi um mar azul escuro absolutamente imponente. E tudo isso ficará na memória pra sempre. Aliás só nela porque as pilhas compradas aqui nem rolaram com a minha câmera. Nenhuma foto. Seguindo para o lugar onde A Europa é mais brasileira, pois o Cabo da Roca é a ponta do nariz do velho continente embicado pra nossas terras. Nada de foto. Porra, nem uma a máquina deixava. Já eram horas sem dormir e tudo incomodava, principalmente minha cueca que, por estarem todas na mala, era frouxa e descia e subia dentro das calças. Só fui esquece-la depois da primeira cerveja no pub onde um gordo brasileiro meio chato comandava o videokê. Ali conheci mais gente que está tentando a vida como pode, vi a união desta galera, um misto de cadeia com BBB, e vi todos reclamando da crise, numa constante intermitente. Eu era o turista, meio sem sal no meio de tantos como eu que acabou cantando “exagerado” sem sucesso, recebendo palmas burocráticas. Deu saudade da minha banda, dos meus amigos e do colo quente. Mas amanhã novas expectativas: irei a lisboa, já troquei as pilhas e encontrarei muitos turistas mochileiros como eu. Ah, também abandonei a cueca em algum lugar e aderi a umas ceroulas quentinhas. Só assim o saco fica quente e não cheio.
Bairro São Marcos, Portugal.
domingo, 1 de março de 2009
CERTEZAS E SUAS ASAS
O preço alto de realizar um sonho é ter que deixar outros sonhos para trás. Aqui na garagem um carro velho me olha, cheio de poeira, querendo fugir feito cão sem dono. No coração, onde acontecia um baile de máscaras, só escuridão e saudades. O quarto, entulhado, cabe tudo que eu quero e só falta espaço pra mim mesmo. Restando 15h para embarcar a incerteza veio puxar meu pé esta noite. Mas agora já era.
Meia grossa, barbeador, presentinhos, camisa do mengão. Tudo socado no mochilão disforme que testo de hora em hora para saber se ultrapassei o limite de quilos exigido no aeroporto. Sei que o mais pesado disso tudo são meus medos, alguns tão íntimos que estão indo guardados no meio das cuecas, amassadinhos. Medo de ficar deprimido, de ser imaturo, de ser rejeitado, de não entender porra nenhuma que aquele grupo de romenos ta tentando me dizer. Um suburbano, criado por vó, cheio de manias e dengos, acaba de abrir mão da popularidade, das noites quentes, dos amassos nas ruas, da cerveja estupidamente gelada, para se aventurar no continente que manda de volta tantos outros suburbanos criados por vó, seja no controle da alfândega ou no destrato feito a povos pobres e ex-colonizados como nós. Ao mesmo tempo, a capacidade que cada lugar daquele tem de nos encantar faz de mim um apaixonado, um desbravador inconseqüente, capaz de se emocionar com os aquedutos de Segóvia, mesmo que eles me lembrem a Lapa.
Acham que eu não vou voltar e me divirto com isso. Fizemos tantas despedidas que nem no meu enterro terão mais palavras dóceis. Ganhei presente, festinha, homenagem ao microfone, declarações contidas de amor. Não mereço nada disso, afinal ninguém sabe que no fundo do peito gostaria de congelar tudo ou fazer que chova 60 dias para que ninguém viva sem mim. Quero estar aqui a cada folha solta desta amendoeira que me observa pela janela. Meu monstro de estimação e o de tanta gente não admite que o tempo passe, a fila ande, enquanto não se está presente. E aquela paquera?E a música nova pra cantar no estúdio?E o título que ficou faltando para o Dia internacional da mulher?É difícil virar de costas, mesmo que por pouco tempo, para tudo que compõe quem sou eu. O jeito está sendo levar um pouquinho disso tudo comigo dando graças a Deus que no coração não tem limite de peso para despachar.
A partir desta terça cada amanhecer será cercado de lugares milenares, línguas esquisitas, manias inéditas, paladares surpreendentes. Experiências tão profundas e ao mesmo tempo tão particulares que ninguém no mundo será capaz de decifrar com tanta precisão. Talvez exista somente uma coisa mais importante que ir ao Parque Guel, fumar um baseado em Amsterdam, andar de bicicleta por Monmatre, ganhar uns euros trabalhando, ou tocar violão no pôr-do-sol do Tejo. Se um dia, brincando aos meus pés, meu filho questionar o quanto foi querido, direi a ele tudo que fiz por aí, e o provarei que nada no mundo é tão bonito e importante que sua existência na minha vida.
Esta é, sem dúvidas, uma viagem para eu encontrar certezas.
*Usarei, na medida do possível, este blog como diário de viagem, registrando minha passagem e as observações sobre os lugares.
Meia grossa, barbeador, presentinhos, camisa do mengão. Tudo socado no mochilão disforme que testo de hora em hora para saber se ultrapassei o limite de quilos exigido no aeroporto. Sei que o mais pesado disso tudo são meus medos, alguns tão íntimos que estão indo guardados no meio das cuecas, amassadinhos. Medo de ficar deprimido, de ser imaturo, de ser rejeitado, de não entender porra nenhuma que aquele grupo de romenos ta tentando me dizer. Um suburbano, criado por vó, cheio de manias e dengos, acaba de abrir mão da popularidade, das noites quentes, dos amassos nas ruas, da cerveja estupidamente gelada, para se aventurar no continente que manda de volta tantos outros suburbanos criados por vó, seja no controle da alfândega ou no destrato feito a povos pobres e ex-colonizados como nós. Ao mesmo tempo, a capacidade que cada lugar daquele tem de nos encantar faz de mim um apaixonado, um desbravador inconseqüente, capaz de se emocionar com os aquedutos de Segóvia, mesmo que eles me lembrem a Lapa.
Acham que eu não vou voltar e me divirto com isso. Fizemos tantas despedidas que nem no meu enterro terão mais palavras dóceis. Ganhei presente, festinha, homenagem ao microfone, declarações contidas de amor. Não mereço nada disso, afinal ninguém sabe que no fundo do peito gostaria de congelar tudo ou fazer que chova 60 dias para que ninguém viva sem mim. Quero estar aqui a cada folha solta desta amendoeira que me observa pela janela. Meu monstro de estimação e o de tanta gente não admite que o tempo passe, a fila ande, enquanto não se está presente. E aquela paquera?E a música nova pra cantar no estúdio?E o título que ficou faltando para o Dia internacional da mulher?É difícil virar de costas, mesmo que por pouco tempo, para tudo que compõe quem sou eu. O jeito está sendo levar um pouquinho disso tudo comigo dando graças a Deus que no coração não tem limite de peso para despachar.
A partir desta terça cada amanhecer será cercado de lugares milenares, línguas esquisitas, manias inéditas, paladares surpreendentes. Experiências tão profundas e ao mesmo tempo tão particulares que ninguém no mundo será capaz de decifrar com tanta precisão. Talvez exista somente uma coisa mais importante que ir ao Parque Guel, fumar um baseado em Amsterdam, andar de bicicleta por Monmatre, ganhar uns euros trabalhando, ou tocar violão no pôr-do-sol do Tejo. Se um dia, brincando aos meus pés, meu filho questionar o quanto foi querido, direi a ele tudo que fiz por aí, e o provarei que nada no mundo é tão bonito e importante que sua existência na minha vida.
Esta é, sem dúvidas, uma viagem para eu encontrar certezas.
*Usarei, na medida do possível, este blog como diário de viagem, registrando minha passagem e as observações sobre os lugares.
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