quinta-feira, 31 de maio de 2007

MINHAS MULHERES SOLITÁRIAS

Moro em um labirinto de salas e quartos mal recortados, onde nem sempre a luz do sol é convidada a entrar. Minha casa, que durante sua existência abrigou um entra e sai de gente, oferecendo jantares a personalidades e abrigo a anônimos, com homens indomáveis que chegavam famintos do ofício da madrugada, cheios de suas histórias barulhentas e fantásticas, hoje esconde três mulheres, cada uma com sua solidão.

Encontro com a mais velha freqüentemente. É frágil, singela e bonita. Nossa conversa, sempre nas rápidas manhãs, varia entre as fofocas da vizinhança e as contas que nunca se pagam. Quando não a encontro na cozinha, está rezando o terço em seu cantinho de mil santos e promessas. É vó-solteira e carrega a responsabilidade de governanta nas costas, fazendo dos afazeres do dia-a-dia, um ocupar contínuo, como um cachorro que tenta em vão morder o próprio rabo.

Já a do meio, vive assombrada pelas seqüelas do destino. Enclausurou-se com suas fobias de gente e assumiu, instintivamente, o papel da lei nesta terra de ninguém. Decide a ordem dos armários, a função das coisas e as marcas que todos irão usar; uma espécie de general sem soldados. Ainda ecoam pelo corredor suas gargalhadas de mulher moça, recém chegada da farra, em uma época que tinha hormônios de sobra e nenhuma responsabilidade.

Todo colorido da casa é de responsabilidade da menor. Inteligente e faminta, ela rompe o silêncio sem milongas, mostrando sua habilidade com o violão sempre que chega uma visita. Seu riso é gostoso porque guarda uma inocência esquecida pelos adultos revelando seus dentinhos separados de leite. Conhece o pai somente da cintura pra cima, através da única foto que tem, mesmo assim, vive uma esperança diária de vê-lo rompendo pela porta, andando com os pés que ela, a cada sonho, imagina de um jeito.

Engana-se quem as acha diferente. São tão unidas, tão peças do mesmo resta-um, que extrapolam a hierarquia tradicional de família. Se chamam de mãe-vó, filha-mãe, neta-filha, sem se preocupar. Abdicaram também do direito de ter cada uma o seu quarto e amontoam-se no mesmo cubículo, onde disputam canal de tv e discutem as diferenças que três gerações distintas têm. Cansadas, acabam adormecendo feito palitos de fósforo, encostando uma a cabeça na outra, talvez para lembrar, mesmo adormecida, que nunca estão sós.

11 comentários:

Anônimo disse...

Haaaaaaaaa... q lindas!
Confesso de deu uma dorzinha de ler essa história! :/
Talvez de alguma maneira eu entenda exatamente a "solidão" de cada uma delas e me identifique!
"Bendito és o fruto!"
O 701 tb é uma casa, não de 7, mas de 4 mulheres! hehehe
Bom fds pra vc!
E que venha a próxima quinta-feira!
;)

Ps: confesso que me senti meio órfã na última semana, sem sua crônica de quinta!

Bjinhusssssssssss

Anônimo disse...

Me emocionei!

Unknown disse...

engraçado...eu tenho a impressao de que ja estive la, sabe. td parece mto proximo pra mim. acho q é seu jeito de contar historias...

Unknown disse...

eu e a luna.

Gustavo disse...

mt bom texto. Gostei mesmo.
parabéns!
bjundas,

Unknown disse...

Adorei! Muito bonita..
Bjs

Jana

Unknown disse...

Gostei mto dessa tb!! Só poderia ficar melhor se vc contasse um pouquinho mais dos sonhos, rotina e frustrações de cada uma. Daria com certeza uma mistura de graça e desgraça. Pense nisso e aproveite sua destreza, meu amigo! Aposto que vc faria um ótimo texto, tão bom qto os anteriores!! E seus leitores iriam se identificar ainda mais com a vida dessas moças.
Beijos!!! TJNP!!

Anônimo disse...

Lindo texto! Não sei se fico feliz por ter o prazer de conhecer sua casa e as três mulheres e assim ter sido apresentando mais um pouco à elas ou se invejo aqueles que se divertem imaginando como tudo é. Final do mês, estarei ae!!

Abraços!

Anônimo disse...

Lindo!!! Nem sei o que dizer, já q conheço bem essas solitárias e suas histórias. Emocionante. Bjos.

Juliana Viana disse...

Visitar o blog da amiga Juliana mais conhecida como JU PRETA
é uma ótima idéia.
bjs

Anônimo disse...

Oi,

Adorei!!!

Isso tudo me lembra muito a minha própria casa. Rsrsrs...

Saudades...Beijos da mosquinha da vadiagem.