quinta-feira, 12 de julho de 2007

EU ESCREVO PRA VOCÊ. VOCÊ ESCREVE PRA MIM

Eu e Liu Brito topamos o desafio de inverter os papéis. Cada um devia escrever sobre a presença do sexo oposto dentro de sí. Eu encarei a meia-calça, ela calçou a botina. O resultado você vê agora...



SEJIS HOMI! Por Liu Brito

Invadindo um blog de menino para tentar escrever alguma coisa que não choque o público do meu querido e talentoso amigo Aru.
Foi assim que resolvi escrever sobre as vezes que paro diante do espelho e digo:
-Nossa, tô parecendo um homem...
Não me entendam mal, na aparência e no gestual sou tão feminina que até pareço uma bicha. Estou falando mesmo de comportamento.
Meu cabeleireiro diz que sou mais homem que ele, o que não é muito difícil, mas ele justifica dizendo que sou bem humorada demais pra ser mulher. Ora bolas, as mulheres não são mal humoradas, levam esta fama por causa da maldita TPM. Experimente ter uma maré de hormônios, que muda de acordo com a lua e depois falamos sobre humor regular.
Bem, mas verdade seja dita, às vezes sou muito homem mesmo e por isso não tolero homem mulherzinha, esses que fazem charminho pra ligar, só ligam na terça, porque se ligar no Domingo vai parecer que está apaixonado, me poupem.
Outro exemplo de Homem mulherzinha é aquele tipo que liga no meio da noite pra ex-namorada porque bateu saudade e inventa uma desculpa esfarrapada qualquer, ah, seja homem meu filho.
Sou muito homem pra ligar pra quem eu quiser e fazer um convite. Azar dos que dizem não. Afinal, homem que é homem não tem medo de porta na cara.
As mulheres conquistaram o sagrado direito de dizer o que querem e como querem, coisa que os homens já fazem há milênios, então antes que eu me esqueça, as mulheres gostam sim de sexo oral, desde que bem feito, ok? Pra fazer de qualquer jeito, melhor não.
E por falar em ser homem, de uma vez por todas, acabou aquela história de mulher achar que todos os homens podem ser o potencial homem da sua vida. Hoje em dia, as mulheres já conseguem colocar os homens em suas devidas gavetinhas. Cada um na sua. Tem gaveta para amigo, gaveta para potenciais, gaveta de ex e principalmente, gaveta para equilibrador hormonal, isso mesmo, porque toda mulher precisa de um.
Antes que eu me esqueça, mulher quer ser respeitada, em todos os aspectos, então por favor, cuidem bem das suas cuecas e pensem muito antes de puxar uma mulher pelo braço sem tê-la levado pra jantar, depois até pode e pelo amor de Deus, mudem a ordem da entrevista, qual seu nome, o que você faz e onde você mora, já basta no senso.
Então fica certo assim, me dá seu telefone e se eu quiser ligo logo no Domingo, se eu não ligar, esquece. Minha cor predileta? Verde. Livro? Vários, inclusive o pequeno príncipe (o Aru também leu). Bicho nojento? Cobra, tolero as baratas. Time? Vitória. Não tenho diário e adoro ser solteira, ser casada e namorada também, tudo depende de com quem.
E aí? Vai encarar?

mais textos da autora no blog www.todaprosa.blogspot.com

MENTIRAS DE SALTO ALTO por Aruanã Bento

Por dentro de um grande homem existe uma grande mulher.
É ela quem cochicha no meu ouvido os compromissos marcados duas semanas antes, o presente certo e as palavras secretas que só podem ser ditas quando as mãos se tocam pela primeira vez. Moramos no mesmo corpo mas não é sempre que a vejo. A última vez foi na despedida de um amigo que acabei chorando no saguão do aeroporto. É minha porção mulher quem brinca com o cachorro, me livra invariavelmente do mau-humor, e consegue, nas formas das nuvens ou na espuma do shampoo, descobrir desenhos, imaginar coisas.

No dia-a-dia de redator publicitário que preciso tirar a gancho minha criatividade, a porção feminina me salva e busca em sua habilidade de pensar mil coisas e assimilar mil palavras, associações fantásticas, que se transformam em títulos impossíveis de não ler. Foi com ela que também descobri como o azeite valoriza a comida, como o vinho seco pode ter tanta complexidade em aromas e texturas, como identificar as pessoas através de seu signo e, principalmente, como o sexo oral se torna um grande coringa se estiver situado entre a paciência de um monge e a obediência de um cão-sem-dono.

Olhando assim fica difícil de imaginar, mas até a porção mulher é capaz de mentir.

“Você gostou da minha unha?Ah, que fofo!Tenho tatuagem sim, adoro. Nossa temos muito em comum. Podemos marcar, adoro jantar no japonês. Cara, você é muito especial, me amarrei na sua...como amigo”.

Desde que me entendo por gente procurei fazer coisas que realmente tocassem as mulheres, que estivesse dentro dos seus sonhos mais distantes. Acreditei que elas gostassem de homens com senso de humor, com conteúdo e sensibilidade para percebê-las como nenhum outro. Tolice. Assim como todas as outras, minha porção mulher passou a vida me mostrando o cara que ela pretendia gostar e não quem ela realmente gostava.

Por isso, decidi faz tempo não dar ouvido a minha voz feminina interior e, aos poucos, silenciou-se. Hoje não me procura mais.

Sozinho, invado noites atrás de diversão e as vejo batendo cabeça, ou como diria Liu Brito, na vitrine. Todas seguem a mesma tática pelas mesmas finalidades e seguem trocando blefes por beijos. O primeiro e mais duro golpe que aprendi foi que, para conquistar uma mulher é preciso, antes de tudo, ignorá-la. Depois de milênios presa dentro das cavernas, as moças conquistaram seu direito de caçar mas ainda não sabem usá-lo: são fantoches nas mãos masculinas calejadas na arte da conquista. Andam, passam, esbarram, olham, insinuam, como cardumes que disputam quem será comido primeiro pelos tubarões.

Sem minha porção mulher me olho no espelho e me sinto um nômade que usa, gasta uma terra e depois a abandona, mas tenho a convicção que não poderei mais reencontrá-la sozinho. Preciso da cumplicidade de alguém, que saiba dar colo e ganhar colo, que aceite convite e também os faça, que me traga elogios e críticas novas, que me surpreenda com girassóis em um dia de chuva. Alguém que saiba rir de si mesmo e não se importe em anoitecer na Lapa e amanhecer no Arpoador. Alguém que não dance apenas para os outros, que tenha ambições profissionais, pessoais, sexuais e, principalmente, que goste de si próprio. Quem sabe assim uma dia eu acorde e volte a ouvir no meu ouvido novamente uma voz sussurrando: “Acorde mocinho. Você precisa estar bem bonito para reencontrar o amor da sua vida”.

13 comentários:

Anônimo disse...

Eu por você e você por mim, almas paradoxas de visões abertas. Muito bom, fácil e gostoso de ler. Sugiro um desdobramento para dar voz ao terceiro sexo. Transcedência e mescla de valores.
Parabéns. Kinho Vaz

Líu Brito disse...

Aru,
Adorei a nossa experiência.
Um dia, depois que eu aprender a terminar as coisas, podemos repetir ou quem sabe tentar o desdobramento que o nosso amigo Kinho Vaz sugeriu. bjos

Gustavo disse...

Adorei os textos e me identifiquei com ambos. Fiquei feliz e triste por ter compartilhado o último sussurro (ou urro) de seu lado feminino (talvez mais para a "voz" do "terceiro sexo", citada no primeiro comentário?). Repito o que lhe disse no calvário aeroportuário: "TU é o cara!".
ab(s)jundas,

Gustavo disse...

Aliás, boa garoto! Definitivamente, as mulheres, por mais vividas e experientes que sejam, ainda tem mt o que aprender com os tubarões... (uma provocação. Verdadeira, porém.. hehehe).

Marcela Diniz disse...

Caracaaaa

A espera nunca foi tão válida!

MUITO BOM!
Parabéns aos "autores" que, cada um na sua perspectiva, retrataram muito bem o sexo oposto. rs

Sei exatamente o que é ser uma mulher-homem. Ter uma voz masculina dentro de vc,ou melhor, uma alma masculina. E me identifiquei muito com o texto da Liu Brito.

Mas confesso que, mesmo achando mais prático ser uma mulher-homem, adoro a complexidade de ser uma verdadeira mulherzinha!!

Depois de uma longa fase masculina, acabei de retonar às minhas origens ... e estou tentando "ficar bem bonita para encontrar o amor da minha vida", como o sr bem coloca no seu texto-desafio, Sr Aruanã Bento.

rs

A verdade é que sem hipocrisia, cada um é feliz do seu jeito. Sem fazer charme, nem tipo; sem jogos ou equilibrador hormonal reprimido.

Bjinhus

Anônimo disse...

Muito bom.
A visita às quintas sempre vale a pena.
Parabéns.

Vivianni Patricia disse...

Mocinho,
Parece engraçado dizer que a sua história na crônica eu já conhecia...Acho até que já te comentei que o meu lado homem É VC (rsrsrs). Fico feliz em saber que num belo dia de chuva eu te dei uma caixa vermelha repleta de mimos só para te surpreender...
Amei as duas crônicas. A idéia foi maravilhosa. Bjk

Anônimo disse...

Parabéns pra vocês.
Acho que fiz uma descoberta, e que ela faz sentido, talvez já tenham descoberto isso antes ... mas a mulher precisa ser mais homem quando está solteira e o homem só se permite ser mais mulher quando está com o coração preenchido e correspondido.
Fico por aqui, parabéns de novo para os dois e olha, sempre digo isso, meu lado homem é uma drag-queen!

Music_Lover disse...

Genial.
Fui lendo a sua versão feminina, e o meu natural estafamento de ler ao monitor não veio. Acabei debulhando o resto das suas crônicas que me estavam atrasadas.

Anônimo disse...

Você se supera a cada quinta..

beijo,

Jana

Anônimo disse...

Aruana parabens!
vc está ficando melhor a cada digitar de seus dedos!
não em canso de falar como vc consegue espressar tão bem sentimentos em palavras
Mil beijos

Anônimo disse...

Vcs definitivamente trocaram de sexo, pelo menos por um instante...
O interessante é que percebi que possuo os encantos dos dois sexos. Adoro minhas "mulherices" e minha visão prática de homem. Adoro mais ainda poder alterar entre elas dependendo da situação. Isso nos torna tão versáteis...
Bjos e parabéns aos dois
Giselle

Anônimo disse...

Muito bom ver os dois lados da moeda. às vezes também me sinto mais homem que muito homem. Principalmente daqueles que não se posicionam diante de situações( que ficam em cima do muro), que são "vaselinas",que não assumem seus erros...E vc sabe bem como são incisivas as mulheres desta família cobrando decisões e posicionamento, né(rsrsrs) Adorei Bjs