Visitei tantas igrejas e túmulos mas perto de Deus mesmo eu me senti voando de volta para o Rio. Foram 8 horas para tentar ordenar o fuso-horário e as batidas do coração. Vi a primeira estrela nascer e parecia que estava ao meu lado. Lembrei do pequeno príncipe e seu planetinha. Não é a toa que o escritor do livro era piloto de avião. Fiquei horas olhando pra ela, assim como eu fazia quando era adolescente e pedi pra Deus uma confirmação de que eu havia tomado a decisão certa. Uma estrelinha cadente me saudou, riscando céu enquanto uma lágrima sem-vergonha pulava do meu olho. Há quase dois meses atrás eu havia abandonado uma banda com poucos fãs mas com muitos amigos, um emprego com alguns êxitos profissionais e uma família orgulhosa deste feito tão maluco. Agora, volto sem dinheiro, sem emprego, com um mundo em crise e cheio de idéias pra realizar. Na verdade eu só troco de mochila e agora carrego nas costas a responsabilidade de pagar minhas dívidas e tentar uma oportunidade neste mercado cheio de amizades e traições.
Vi meu pai me saudar com um sorriso igual ao do meu avô e junto com ele o agente de viagem que me adiantou as burocracias. Sofri com o calor e com a falta de iluminação das ruas e conforme ia me aproximando de campo grande o coração pulava como se estivesse indo visitar uma cidade nova em qualquer lugar da Europa. Família, beijos, presentes em 15 minutos e logo descobri que a banda estava tocando perto de casa. Em um pulo estava lá. Entrei sem ninguém ver e tive que segurar a onda da emoção com a gritaria das pessoas. Ninguém sabia que eu chegaria naquele momento e para todo lugar que eu olhava eu via sorrisos tão bonitos e cheios de saudade que era impossível pensar em problemas. A banda estava lá, com um mais gordo, outro mais barbudo e um som limpo, agradável, feliz. Acabei a noite andando sozinho pelas ruas do meu bairro com saudosismo e observando as coisas ainda com olhar de turista. Fui ao bar que sempre vou, encontrei aos amigos que sempre encontro e cantei as músicas que sempre canto e aos poucos venho compreendendo o quanto importante eu posso ser para as pessoas, cantando, sorrindo ou apenas tomando um chopp e falando besteira. Foram dois meses andando sozinho e agora todo lugar que vou encontro um mundarel de pessoas queridas cheias de saudade. Por falar em mudanças, ainda não consegui me livrar do vício de andar com a máquina fotográfica no bolso e a carteirinha de moedas de todos os dias assim como não me interesso em nada em ligar meu celular e ver televisão.
No domingo reencontrei as pessoas da banda e, junto com minha família, vivemos uma tarde em comunhão onde Marcelo, guitarrista da banda, abriu seu terraço e São Pedro nos presenteou com uma tarde linda que deixava a relva em volta mais verdinha. Fui convidado a ser padrinho de casamento dele o que selou a minha volta e minhas dúvidas quanto ao meu retorno. Agora, sentado neste computador, vivo um misto dos três tempos, onde o saudosismo, a saudade dos lugares e pessoas, a preocupação com o meu futuro e a minha reabilitação no presente me confundem. Tenho um sono permanente dentro deste pijama que vesti durante o dia todo, sem saber exatamente o que fazer. Sinto saudade dos mapas onde eu marcava a caneta o que queria fazer e minha felicidade estava a poucos quilômetros de mim. Quero encontrar pessoas mas não quero explicar nada, quero trabalhar mas me sinto cansado, quero cortar o cabelo mas gosto dele assim, quero começar logo a escrever alguma coisa nesta página em branco que se tornou minha vida daqui pra frente.
10 comentários:
lindo texto!!!
boa sorte....
bjo
Querido...realmente a vida nao para...Nao importa o que estejamos fazendo..mas ela nao espera por nos..No entanto, nos podemos alcanca-la para conseguir o que desejamos! E a lei da vida e da selva..hehehehe Good luck! beijaoooo
Ah nao esta demais dizer que fiquei muito emocionada com o texto! sempre e bom se emocionar com palavras...
eu já disse q me enxergo nos seus textos? pois é...sorte não te desejo, vc não precisa disso...muitos beijos de mais uma amiga saudosa...rs
Amigo, não vejo a hora de te ver de novo, por aí. Aquele encontro casual, um abraço e uma cerveja e é você...O Aru de sempre, com a escrita emocionada e a boca cheia de histórias e sorrisos. Sou tua fã!
Bom vamos lá mesmo sendo novo aqui nesse Blog e não sabendo mexer direito vou tentar te dizer algumas coisas que senti nesse seu texto rsrsrsrsrs.
Senti e enxerguei uma pessoa que não sei por que motivos largou tudo em prol de uma loucura do coração, e mesmo sabendo que teria a possibilidade de perder tudo que conquistara foi na cara e na coragem se medo de ser feliz, e que só foi se dar conta de todos esses riscos na volta pro lar. O que eu tenho pra te dizer é o seguinte, às vezes na vida agente tem que meter as caras e mesmo que outras pessoas te digam "NÃO" o mais certo a fazer é seguir nosso coração, pois ele é a resposta pra tudo, Deus fala com a gente através dele, naqueles momentos em que agente mais precisa de uma resposta é ele quem nos responde, e a resposta está ai Não perdeu seu emprego (Quase mais não perdeu kkkk), Não perdeu sua banda (Pelo contrario isso só serviu pra aproximar mais vcs) e não perdeu as pessoas que te ama (Pelo Contrario Cativou outras que não te conheciam e passaram a te conhecer) como meu brother, Brigado pelo Depoimento no meu Blog e saiba que tens aqui agora um grande amigo e parceiro pra toda vida. Nosso santo bateu logo de cara e sei que amizades assim duram por toda a vida.
Te Amo meu Brother, fica com Deus e Sucesso na tua Trajetória. Do seu amigo ...
LUCIANO FOURNIER
Meu camarada, continuo achando que ´viajar é o mais triste dos prazeres humanos´, mas acompanhei com muita satisfação boa parte dos seus textos sobre este périplo pelo velho mundo. O desfecho foi perfeito, pois deve ser assim que um viajante saudoso e inspirado deve se sentir quando volta ao seu quintal.
Abraços e parabéns!
Estava achando que lia um blog de uma amiga quando me deparei com um video teu lá em baixo. E pensei:"que porra é essa?" .... li metade do seu blos sem saber que era o seu.
Saudade de tu sua bicha!
Abs!
E vc ainda tinha dúvidas do tanto que faria falta aqui??
Saudades, moço!!!
Chopp logo, please!!!!
Beijocas
P.S. Adoro esses seus textos quando vc despe a armadura e mostra seu lado mais frágil, que nem todo mundo conhece...
Ir, viajar, bundiar por aí é tudo de bom. Mas nada é mais gostoso do que a casa da gente, os cheiros conhecidos, os cantinhos que só a gente reconhece como nossos,as nossas marcas deixadas sem querer e sem saber nas coisas e nos corações alheios.É muito gostoso...Quanto as incertezas, o dilema do que virá a ser, por mais estranho que pareça, faz parte do que temos de mais especial - a capacidade da gestação. Com certeza, o momento seguinte será rico de idéias e realizações que levarão a novas e belas crônicas, filhas das angústias e das alegrias do dia a dia, das coisas mais simples e das complicações que teimamos em inventar. Estarei aqui esperando o parto.Adoro ler você.
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