sexta-feira, 22 de agosto de 2008

QUARTA OU QUINTA

Nesta quarta o grupo de pagode canta seu mesmo repertório, as pessoas repetem suas mesmas mentiras e o guardador de carro cobra o mesmo preço a noite toda. Aqui dentro tento dormir cedo e não comer gordura. A urgência é de mudar ou pelo menos cuidar do que se tem. Tocar as músicas esquecidas, terminar as crônicas mal escritas, matar o chefão adormecido em algum jogo de vídeo game. O telefone acumula mensagens de carinho, ligações não atendidas cheias de esperança mas sinto um sono terrível, uma atração insuportável pelo nada. Assim é o desamor segundo Aruanã Bento, um dedo ferido, no qual o hematoma não desaparece, mas vai sendo expulso lentamente conforme a unha cresce. Não existem arestas a cortar nem lamentações a fazer, só uma imensa preguiça de subir a ladeira, de recomeçar o dever de casa que eu ainda não aprendi a fazer.
Ela procura, volta, sorri, joga suas pistas falsas de migalhas de pão. O organismo, revolto com tantas noites mal dormidas iludidas, nem deixa meu coração brincar. “Liga mais tarde?” Digo que sim, mas não. Com a certeza da total falta de tesão vou ao supermercado sem cueca e termino a noite vendo um filme clichê. Logo amanheço para as atividades mecânicas de ir, vir, escrever, ler e reler, no entanto, todos os dias escondem seus pontos, virgulas, reticências e na solidão do reflexo do vidro do metrô é que vejo meus olhos, ora iluminados, ora opacos, refletindo o que vem a ser repetitivo na minha vida. Ora vagões lotados, ora estações vazias.

Já nesta quinta amanheci doente, o corpo me fazia lembrar da existência de todos os músculos e artérias dilatando em dor. O sol por mais que se esforçasse não conseguia mudar o gelado que vinha de dentro. Me lembrei da maçã raspada com a colherzinha, vazia, sem polpa e vitamina, só uma casca mole, dispensável. Lembrei do colo de minha mãe, que pouco tive. Lembrei que depois deste amor, qualquer outro amor precisa ser conquistado. Ninguém, por mais subserviente que seja, ama sozinho. Lembrei como é sentir falta de alguém. Talvez me torne um velho solitário e hipocondríaco, andei pensando, pois tento ludibriar minha desconfiança com remédios mais caros e não genéricos, com médicos amigos e seus diagnósticos caóticos ou repetitivos, quando na verdade preciso apenas de uma mão quente, que me acorda em sobressalto para verificar a temperatura da testa ou lembrar do remédio esquecido na madrugada. Tudo que meus olhos febris procuram são outros olhos que tenham a certeza do bem que estão fazendo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A LUA E A RUA

Em um instante preciso, estamos em comunhão
Seu tapete encantado lustra os passos, me mostra o caminho.
Sou gigante e sou menino, com a coragem e o pires na mão.
A destreza me faz andar sozinho. A tristeza, não.

A lua é a rua, que aponta minha direção.
A rua é a lua, onde pouso minha solidão.

Me reconheço em suas calçadas, galopando em cavalo de pau.
É a linha reta de uma infância torta, biografia escrita no chão.
Mas quem se importa? É só mais uma história da inocência morta
Viva a orgia nossa de cada dia então.

A lua é a rua, que aponta minha direção.
A rua é a lua, onde pouso minha solidão.

A VALSA DO AMOR IMAGINADO

Você some e aparece feito bola de chiclete não adianta que eu não quero explicação
Você aparece e some, lua cheia, lobisomem, uivando e arranhando meu portão.

Um dia após o outro, você com sorriso torto, alegando ser sua maré de azar
Me estende uma flor, diz que sou seu grande amor, ressuscita minha vontade de casar.


Estar contigo é festa, ta escrito na minha testa, já te disse isso mil vezes por que não?
As amigas não me entendem, dizem que estou carente, fazem tudo pra mudar minha opinião.

O seu nome na minha agenda, é razão pra meus poemas, que eu rasgo com vergonha de mostrar. Repito simpatias, minhas preces todo dia, santo Antonio um dia vai me abençoar.

Por que você não fica comigo?Não me assume como sua namorada?
Não quero um amigo colorido. As cores sem o amor não valem nada.