segunda-feira, 21 de junho de 2010

CANTAR, OS PORQUÊS

Para aquela canção sussurrada na hora certa ou gritada sem vergonha em plenos pulmões. Para multiplicar em vozes um pensamento ou despertar sentimentos ainda não convidados pelo coração. Canto para descalços, para rostos suados e almas entregues, canto para bêbados, para bregas que fazem flor de guardanapo, para hippies de brinco de pena e para loucos que dançam antes da música começar. Sem os casais que se encontram entre um verso e outro, sem os padrinhos que tomam meu microfone para cantar, sem os enxeridos que roubam os instrumentos de percussão e sem as moças de todas as idades, cujo os olhos me atravessam para enxergar seu amado em algum lugar no tempo, sem todos eles, não valeria. Sejam afortunados que dobram o cachê, presenteiam com whisk ou para durangos que filam cerveja e cigarro mas marcam presença. Canto para a diversidade e faço dela o meu próprio repertório. Tenho pouco a acrescentar a um hit de sucesso, que já repousa feito sudário na história da música popular brasileira, mas o tico que faço tem garantia, tem chancela, pois foi lavrado por noites esquecidas de ensaio, por finais de semana que se vão, por momentos que perdi e me contento em assistir no computador, por crises de vaidade, discussão, destempero, redenção e pelo eco das muitas casas sem ninguém pra me assistir. Talvez a sutil diferença entre ouvir uma letra original, tocada com a virtuosidade de seu próprio criador e ir assistir ao garoto suado, rebolativo, que busca o tom original mesmo lhe custando a voz no dia seguinte, esteja esta nossa mania de gostar de gente. Não tem jeito: não resisto a gente que gosta de gente.

E no meio da massa que ouve falar numa tal banda boa e, a cada dia, se multiplica pra nos assistir, ainda que longe da pregação no monte das oliveiras, tenho os meus discípulos, meus pulmões, meus ouvidos, meus músculos, meus amigos. São eles que me representam ali embaixo, são eles que não enjoam do mesmo baticum e defendem os desafinos e falhas técnicas do destino. Sem eles a dança fica sem par, o reverbe fica sem seu assovio e o silêncio sem aplauso. Essa trupe de boêmios realiza meu maior sonho ao cantar pois fazem a liga do intimo com o desconhecido, trazendo pra perto convidados que ainda não encontraram seu lugar na platéia. Nos dias de show lotado, fujo e tento me esconder para ter o prazer de vê-los cruzando coincidências e afinidades que vão além das comunidades do orkut. São nestes ombros fortes que jogo todo meu pessimismo e insegurança. Espero que estes poucos inesquecíveis que trocam sorriso por canção saibam da minha gratidão. Não devo a eles um pedacinho desta pseudofama que acabará numa primavera qualquer porque só eles sabem que gosto mesmo é de estar ali embaixo, cheio de abraços, fungadas e gracejos, escorado pelo carinho e alto astral a quem, muitas vezes, não pude dedicar mais tempo para repetir o quão são importantes.

Depois de três anos carregando caixas de som, lotando, amassando e empurrando carro, aprendendo sobre graves, médios e agudos, começo a responder para mim mesmo os porquês de cantar mil e noventa e cinco vezes algumas letras e melodias. Canto para unir o maior número de pessoas possíveis que já possuem a minha presença como ponto zero de uma nova amizade. É no rejunte destas histórias que quero estar para sempre. Quero morar na nostalgia alheia e ter tanta, tanta, tanta história pra contar que Deus arrumará um jeito de renovar meu contrato de vida aqui na Terra. Um dia o mar em calmaria vai me arrastar lentamente em direção a velhice e vou ter motivos para acreditar mais no passado que no futuro. Nestes valerão todas as bebedeiras homéricas, decepções sentimentais, ciúmes, testemunhais, mensagens de celular, transas sem trégua, cochilos no sofá seguidos de manhãs com caldo de cana na feira dos pastéis recheados de carne, queijo, frango e saudade.


Para Aline, Camila, Tânia, Nilvinha, Andrea, Eloá, Graça, Alberto, Carla, keiti, Marcia, e poucos outros que são para sempre.

4 comentários:

aline irmã preta disse...

Salve irmão.....

Show da truque .... hummm acho que fiquei pós graduada de tanto que assisto... É no Baco, na up, padaria, Rock bola...nossa...!!

Confesso que não consigo enjoar pelo simples fato que cada show mesmo conhecendo o repertório inteiro (lembra no dia em que biscuit até brincou comigo sobre isso!!)cada dia a energia é diferente!!

Mas confesso que o meu show preferido foi o rock bola (dia 22/05)...a entrega do público com vcs foi algo inesquecível...tanto que não conseguimos ir embora antes da casa fechar...kkk!!!

Agora que faço uma participação especial com a dancinha na minha música predileta (lágrimas de crocodilo)sinto que faço parte da "Família Truque"!!!

Há ...como vc mesmo falou: "O importante é unir o maior número de pessoas"....A PARTIR DE HOJE SEU CACHÊ É MEU..KKKKKK!!!!!

bjs .. te adoro!!!!

Eloá Alves disse...

Por mais que não seja a coisa mais poética, sentimental ou altiva e merecedora de créditos literários, eu tenho uma coisa para comentar: P-Q-P!!!!

Ai ele vem, põe o mundo de cabeça para baixo, me dá um tapa com luva de pelica, se torna responsável por alguns dos melhores momentos... E de alguns não tão melhores... E me oferece textos diversos, que leio sempre que posso. E me apresenta amigos que tomo para mim, como meus. Tudo, não necessariamente nessa ordem.

E hoje um passarinho cantou os porquês de cantar, e eu senti meu olho encher d'água, quando li até o final. Passarinho impertinente!!! Vai ter volta... Rs

Continue sendo a essência Aruanã... o menino rebolativo e suado, o momento de fama passageira, o comunicativo que até em shows lotados fala com cada um, e constrói novas amizades... Leve com você o melhor de tudo, e deixe as coisas ruins no passado! Quando tudo passar, realmente a gente vai ver que o passado valeu a pena, se a alma não for pequena (clichê!!!!)hahahaa

Beijos!!!! E também te adoro!!!! :p

Camila Chuuuuuu disse...

Impossível falar algo...
as suas palavras já falam por si e por nós. Só temos que agrageçer as coisas boas que vc nos trás com o seu jeito de entrar e não precisar pedir licença. A todo momento, independentemente do que esteja fazendo, cantando ou passando...existe um subterfúgio para lher ver...é o nosso Aru...aquele cara que mesmo com o ralar do dia-a-dia, as imaginações para um próximo comercial, a busca da criatividade para ser estampada para um próximo Ouro, o seu "Sol" que está para chegar...e o ser vangloriar vendo todas aquelas pessoas amigas ali...torcendo e cantando com vc...é o maior do que todos os prazeres...posso te garantir...é quase um orgasmo! hahaha
Uma bjoca chuuuu..com todo meu carinho, não precisa agradeçer a mim, eu que agradeço ´por ter ganho uma amigo, um parceiro, um chuchu! rsrs
Te amo horrores..e óh, a varanda está a espera a qlq momento...pode deixar que não esqueço da cerveja! rs...

Aninha Lhama de Franja (Sem Franja) disse...

Nossa....não sei nem o que comentar sobre isso!
Primeiro dizer que estou sentindo muiiiita falta de ouvir você cantar já que estou um tanto quanto ausente e dizer que me reconheci em diversos momentos no seu texto.
Quando você sobe no palco e começa a cantar eu entro em um transe, sofro uma catarse, sei lá! É muito estranho isso, mas quando termina me sinto renovada.
Para quem acredita que cada um tem uma missão nesse mundo...a sua é essa!
Cantar e ENcantar pessoas!
Te adoro!