quarta-feira, 24 de junho de 2009

CONFISSÕES ERÓTICAS SOBRE A PRIMEIRA VEZ

*Baseado no relato de uma amiga confidente, bêbada e feliz.


Pra mim é orgia, mas ele disse que não. Chama de experiência madura ou sei lá que porra é essa. Começou como brincadeira de cócegas, cochichando sacanagem mas acabou falando sério. Saí pela direita.

Nosso namoro não anda bem nestes meses mas já teve sua glória. Sinto que sua ereção mudou. Antes metia afoito, eu nem aproveitava tanto. Depois passou a ser mais paciente e me deixou à vontade, e, de um tempo pra cá, temos apenas transado uma vez por final de semana. Pra mim é pouco. Os últimos dias que me fez gozar de verdade foram aqueles que antecederam o anal. Toda aquela expectativa que criei o fazia bufar, me pegar com força, me subjugar, coisa que adoro. O anal mesmo, detestei. Fiquei tensa. Lembro que vi algo sobre usar o chuveirinho na revista mas o dia me fugiu o planejamento e realmente tive medo de sujar tudo. Ele gostou. Disse que era apertado, quente, não sei o que lá, e nunca quis de novo. Só bêbado. Acho que os homens querem enfiar no cu apenas para conquistar, como fincar uma bandeira, no mais é só um buraco. Sujo, convenhamos.

A proposta me pareceu absurda pois nunca havia pensado em dividir meu namorado com ninguém, ainda mais com a amiga dele. Só não brigamos porque já a conheço e sei que não faz seu tipo. É gordinha, tem espinhas, estria na bunda branca e meio quadradona. Ele gosta de mignon, como eu, não picanha como ela. O que me argumentou era que gostaria de transar comigo e deixá-la com vontade, contando com minha ajuda pra excitá-la. Achei tentadora a proposta vista por este lado tão sádico e aceitei. Por mais que não desse importância, não saía da minha cabeça a imagem daquela gorda, esparramada no sofá, se masturbando e fazendo cara de tesão. Por outro lado, as tentativas com seu membro mole me faziam sentir a pior.

No dia combinado já havíamos brigado tanto que pensei em desistir. Mas ele parou seu Uno preto antes do horário combinado no portão da minha casa e buzinou. Havia comprado uma calcinha ousada, vermelha, mas lembrando da presença de outra fiquei insegura e acabei optando por uma básica mesmo. Que saco a presença desta vaca!Seria tão bom tê-lo de volta, sem a dança do maxixe. Este não é o homem que eu conheci. Nos levou a um pé sujo perto de sua casa, sem cerimônia. A amiga, que me foi apresentada numa das festas de faculdade, até estava muito bonita, usando todos os artifícios de sedução disponíveis no mercado. Francamente ela errou o tom e a roupa estava demais para o ambiente, mas, a esta altura, quem sou eu?Uma mulher que precisa doar metade do seu homem para tornar sua vida interessante. Bateu uma tristeza, tão evidente quanto a tentativa dele de nos deixar à vontade, por isso fui ao banheiro enquanto repetiam suas histórias de sala de aula que eu já não agüentava ouvir e rir educadamente. Tava lá no espelho a verdade, sublinhada por rugas de expressão que a maquiagem não escondeu. Falava sozinha quando minha - quase - rival entrou. Em silêncio, urinou de portas abertas, de cócoras, evitando o contato com a tábua da privada, me olhando distraída. Ainda se secando com o papel ordinário, cortado em tiras, disparou:

- Ele ta achando que vai comer a gente. Coitado.

Como uma mulher pode compreender tanto a outra?... Era tudo aquilo que eu gostaria de ouvir. O castelo de areia, o harém daquele cafajeste se desmontou. Trocamos confidências e rimos da possibilidade absurda numa cumplicidade que só o espelho e o batom podem explicar. Soube ali que nunca haviam transado e tudo não passou de uns beijos arrependidos.Voltamos triunfantes, de cabelos soltos e penteados, rebolando sem notar e chamando atenção dos rapazes reunidos perto do poste. Não combinamos nada mas invertemos o jogo, seduzindo o pobre diabo, cujo pau se apertava na bermuda estampada por coqueiros e ondas. O instrumento eu conhecia bem, mas, sem que ninguém notasse, o fitei e me excitei no primeiro esbarrão de seu braço, alheio ao meu. Sentia com as rédeas da noite nas mãos. A gorda contribuiu com o clima dando agulhadas e deboches. Não se tocaram em nenhum momento, eu vigiava.

Tomávamos um vinho barato pois não há nada melhor para temperar uma noite vadia. Mas aquela birosca, de garrafas multicoloridas, não foi capaz de saciar nossa sede. Foi ele quem sugeriu o motel. Eu tomei um susto, mas depois ri.

- Vai a merda. Com este pinto pequeno você não agüenta nem comigo.

Disse no susto e achei tão divertido, tendo de apoio a gargalhada da amiga. Mas os homens sempre possuem resposta quando o assunto é putaria. Enfiando a mão nas calças, colocou para fora e balançou aquela verga dura, escura, com veias saltando para fora, e a sacudiu numa banalidade de menino brincando com seu cavalinho. Vendo um homem com o membro na mão não há mulher que fique impune, visto que um silêncio tomou conta do carro, ao cruzar os pingos e a modorra de segunda de madrugada. Reprimi-o sem jeito e depois de algum tempo ele entrou abrupto no estacionamento que eu desconhecia. Parecia um posto de gasolina desativado ou algo assim. Saiu do carro no mesmo instante e disse algo sobre comprar bebida. Havia esquecido momentaneamente a minha nova amiga sentada no banco de trás que me surpreendeu ao cochichar no ouvido um assunto que poderia ter sido dito de outra forma mas que, tenho que confessar, não me daria tanto tesão. Molhei numa vez só minha calcinha mesmo tendo um ataque moral de levantar o corpo. Virei de frente a encará-la e a gorda me tocou os cabelos, sorrindo complacente e, se aproximando de súbito, beijou o canto da minha boca, provocando formigamento na língua que a queria. Toquei-a pensando em afastá-la e só a provoquei mais. Também não tinha forças e minha mão escorreu pela fartura de seus seios, que depois de expostos, arrepiaram-se no ato. Gostaria de ter um pau, que tocasse as coisas como se fosse minhas mãos, só assim teria controle e poderia sair tateando fissuras, mas não, sou uma mulher que, ao ser estimulada, sinto um puta tesão do umbigo ao joelho, ficando impossível determinar onde ela me tocou. Quando percebi já passeava com seus dedos úmidos entre as minhas pernas, numa precisão nunca sentida por mim. Deitei meu corpo acionando um botão do painel que passou a assoprar vento quente em nós. Foda-se. Ela encaixou a cabeça entre minhas pernas, agora completamente aberta e, pacientemente, pressionou sua boca carnuda e suas bochechas macias, enchendo os lábios com meus ralos pêlos pubianos. Ainda lembro de seus olhos e do constrangimento pois eram os mesmos que me buscavam no banheiro, querendo cumplicidade. Gozei quando ele se aproximava, revelando apenas uma silhueta ao longe, com o pesado garrafão de vinho nas mãos. Ele sentiu o cheiro, me viu ajeitar a roupa, ficar vermelha e virar para frente mas, estava tão imóvel, tão paralisada, tão desajeitada com a situação, que não tirei os olhos do retrovisor. O gozo me fazia querer mais. As mãos dela me procurando pelo canto da porta também. Impossível. Tinha sido descoberta, sido vencida, corrompido meus códigos morais. A cabeça latejava enquanto os dois riam e falavam besteira sobre qualquer coisa que passasse pela janela. O homem correndo da chuva, o gato que quase virou asfalto, tudo virou motivo.

Nunca mais aconteceu, óbvio. E o namorado também não resistiu a crise de identidade e talvez até esteja com outra. Estou solteira e evito qualquer intimidade ao me ver sozinha com amigas. Vou morrer sem dizer para nenhuma delas que tenho até hoje tesão naquela gordinha ou em qualquer outra que cruze meu caminho. Bom, pelo menos era segredo, até agora.

terça-feira, 23 de junho de 2009

COMPRAS E AFAZERES

Minha inércia e meu desapego material chegaram ao limite. Vim da Europa empolgado com uma sociedade inteira que realmente se importa mais com o “ser” que o “ter”. Além disso, sobrevivi com uma mochila dois meses e posso continuar assim: meia dúzia de roupas e muito menos quinquilharias tecnológicas. Mas foi a moça falante que viu “Ei, sua camisa ta furada”. Era a terceira em uma semana. Comecei a rascunhar a lista de compras e afazeres mas com o pesar que deveria também fazer a lista de dispensas. É assim com o coração da gente e tem que ser com as coisas também. Mas não consigo. Prefiro não ter a ter que abandonar depois.

Sinceramente tenho medo das listas. Todas as vezes que as faço não consigo executá-la. Bastam dois ou três itens concluídos e a sensação de dever – parcialmente – cumprido toma conta. Me perco em possibilidades e transformo equações exatas em barcos que navegam em mares infinitos. Se eu tivesse criado o mundo, ele não completaria o quinto dia e se tivesse criado os mandamentos, não passariam de conselhos rascunhados. Começo sem prestar atenção.

Primeiro meu carro, cansado de guerra, cheio de arranhões e gambiarras elétricas.O que fazer com ele? O Eco-Escort, como o chamo, tem andado manco, furando pneus e dando de lado. Nele habitam um pé de tênis, que tenho a esperança de encontrar seu irmão gêmeo, uma garrafa de vodka, para a festa nunca acabar, e um casaco para dias sem ninguém. O cd, que não funcionava, deu o ar da graça depois da joelhada de uma pequena mas voltou a se calar recentemente. Tento lembrar o nome dela para que possa repetir o golpe.


Vou direto às roupas, mais urgente. Um armário de adolescente me olha com seus bofes pra fora não suportando uma cueca. Tenho que eliminar algo. Ano passado tive a paranóia de ter que tocar com uma camisa nova a cada apresentação. A doidice passou mas me apeguei a elas. Essa do barbudo de óculos, foi a usada para as fotos no estúdio, fica. Essa listrada, deu sorte, fica. Mas a do ferro de passar foi presente, fica também. No entanto só tenho usado outras, lisas, mais agarradinhas ao corpo, aproveitando os dois quilos a menos que mantenho distraído. Melhor recosturar todas então.

Pulo as contas fixas da lista pois estas sei de cabeça, só não as pago sempre por puro masoquismo. Prefiro organizar os planos futuros, inspiradores. Morar sozinho?Um novo possante? Ou a viagem pela América? Mas, calma aí rapaz. Para fazer tudo isso eu não preciso economizar? Desanimo ao olhar o papel que pede minha atenção, implorando com seu espaço em branco um pouco de conteúdo. Mudo o foco. Começo rapidamente uma nova lista com tudo que fiz este ano. Caminho fácil pelo acampamento inédito em ilha grande, pela fantasia inspirada no carnaval e pelos tantos quilômetros em terras estrangeiras. Tive que voltar as montanhas de San Gotardo, lá nos Alpes, para avistar no horizonte o mochileiro curioso que sou e como posso fazer da minha rotina uma nova aventura. Pensando bem, vou deixar a lista pra lá. Muito melhor é encontrá-la dentro de mim.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

IMIGRANTE SENTIMENTAL

Meu dia dos namorados foi solitário e cansativo. Casais insaciáveis arrancaram meu couro e a aparelhagem da banda, me esgotou a paciência com sua microfonia de araponga descontrolada. Diferente de tantos finais de semana, onde gente saudável e disposta troca telefones e marcam planos para o dia seguinte, vi dois carros passando e uma chuvinha fina cobria a luz numa transparência de lingerie. Ligo?Não ligo?Quero?Não quero?Deixa pra lá. Segui minha sina de imigrante sentimental e fui me esconder no interior do Rio e no interior de mim.

Perdoem-me os amigos pois mentirei a todos eles se insistirem em perguntar sobre a viagem. Falarei sobre a beleza das flores, da energia renovada e dos amores de bolso que deixei por lá. Deturparei valores que gastei, quilômetros que andei e até mesmo a temperatura medida do lado de fora da janela. Só não me peçam fotos e nem busquem testemunhas pois ambas não existem. Meu avô dirá que viu um neto comportado, atualizado em sua sede literária e apto a ser o motorista da família. Minhas primas dirão que mataram a saudade do mochileiro, com histórias mornas pra contar e um saco de dormir cruzado no chão da sala. Meu colega de faculdade dirá que encontrou um cara deslocado, se sentindo velho no show com ex-crianças, tentando fazer de sua companhia um motivo extra para se sentir mais feliz.

O que valeu: Paçoca feita em pilão, crocante e bem batida por muitas mãos. Meu pai com bigode pintado a lápis, acompanhado das suas novas crianças e minha afilhada, desajeitada com a bola. Parentes que não são exatamente meus mas emanam sua sinergia para os demais. Dias sem grandes exageros etílicos.

Agora voltando pela rodovia, entediado da paisagem monocromática, tento não fazer um balanço sobre minhas decisões. Estico a perna para o lado antes que meu companheiro da poltrona ao lado do ônibus chegue. Estou sem saco pra mim mesmo. Mas o ipod também se cansou e arriou suas baterias visto que não tenho outra escolha. Sei que me arrependi de não levar a moça a tira-colo, de não dar chances e exclusividade a quem me quer bem. Ficaram sem dono o chapéu de caubói de brinde que ganhei um par, a maçã do amor pela metade, as frases bonitas das canções que cantei pra ninguém e a brisa gelada, que só existe para unir casais. Nestes dias penso: melhor que ser egoísta, fazer planos solitários e tomar rédeas do destino, é ter alguém para ser ainda mais egoísta com você.

“Oi?Qual é o número do seu assento?Poderia tirar a mochila por favor?Tudo bem, você mora aqui ou ta passeando?Gostou da festa?E o show?Você ta com sono?Tá quieto...”

- Você quer mesmo saber?