segunda-feira, 27 de abril de 2009

PÁGINA EM BRANCO

Visitei tantas igrejas e túmulos mas perto de Deus mesmo eu me senti voando de volta para o Rio. Foram 8 horas para tentar ordenar o fuso-horário e as batidas do coração. Vi a primeira estrela nascer e parecia que estava ao meu lado. Lembrei do pequeno príncipe e seu planetinha. Não é a toa que o escritor do livro era piloto de avião. Fiquei horas olhando pra ela, assim como eu fazia quando era adolescente e pedi pra Deus uma confirmação de que eu havia tomado a decisão certa. Uma estrelinha cadente me saudou, riscando céu enquanto uma lágrima sem-vergonha pulava do meu olho. Há quase dois meses atrás eu havia abandonado uma banda com poucos fãs mas com muitos amigos, um emprego com alguns êxitos profissionais e uma família orgulhosa deste feito tão maluco. Agora, volto sem dinheiro, sem emprego, com um mundo em crise e cheio de idéias pra realizar. Na verdade eu só troco de mochila e agora carrego nas costas a responsabilidade de pagar minhas dívidas e tentar uma oportunidade neste mercado cheio de amizades e traições.
Vi meu pai me saudar com um sorriso igual ao do meu avô e junto com ele o agente de viagem que me adiantou as burocracias. Sofri com o calor e com a falta de iluminação das ruas e conforme ia me aproximando de campo grande o coração pulava como se estivesse indo visitar uma cidade nova em qualquer lugar da Europa. Família, beijos, presentes em 15 minutos e logo descobri que a banda estava tocando perto de casa. Em um pulo estava lá. Entrei sem ninguém ver e tive que segurar a onda da emoção com a gritaria das pessoas. Ninguém sabia que eu chegaria naquele momento e para todo lugar que eu olhava eu via sorrisos tão bonitos e cheios de saudade que era impossível pensar em problemas. A banda estava lá, com um mais gordo, outro mais barbudo e um som limpo, agradável, feliz. Acabei a noite andando sozinho pelas ruas do meu bairro com saudosismo e observando as coisas ainda com olhar de turista. Fui ao bar que sempre vou, encontrei aos amigos que sempre encontro e cantei as músicas que sempre canto e aos poucos venho compreendendo o quanto importante eu posso ser para as pessoas, cantando, sorrindo ou apenas tomando um chopp e falando besteira. Foram dois meses andando sozinho e agora todo lugar que vou encontro um mundarel de pessoas queridas cheias de saudade. Por falar em mudanças, ainda não consegui me livrar do vício de andar com a máquina fotográfica no bolso e a carteirinha de moedas de todos os dias assim como não me interesso em nada em ligar meu celular e ver televisão.

No domingo reencontrei as pessoas da banda e, junto com minha família, vivemos uma tarde em comunhão onde Marcelo, guitarrista da banda, abriu seu terraço e São Pedro nos presenteou com uma tarde linda que deixava a relva em volta mais verdinha. Fui convidado a ser padrinho de casamento dele o que selou a minha volta e minhas dúvidas quanto ao meu retorno. Agora, sentado neste computador, vivo um misto dos três tempos, onde o saudosismo, a saudade dos lugares e pessoas, a preocupação com o meu futuro e a minha reabilitação no presente me confundem. Tenho um sono permanente dentro deste pijama que vesti durante o dia todo, sem saber exatamente o que fazer. Sinto saudade dos mapas onde eu marcava a caneta o que queria fazer e minha felicidade estava a poucos quilômetros de mim. Quero encontrar pessoas mas não quero explicar nada, quero trabalhar mas me sinto cansado, quero cortar o cabelo mas gosto dele assim, quero começar logo a escrever alguma coisa nesta página em branco que se tornou minha vida daqui pra frente.

domingo, 19 de abril de 2009

PARQUE DE DIVERSÕES

Suiça, Bruxelas, Amsterdam e Paris. O a roda gigante deu um giro rápido na segunda parcela da viagem. Tantas experiências, tanta gente interessante, que o blog ficou ultrapassado, sumiu na poeira. Fumei um baseado, encontrei amigos, fiz outros, peguei carona, cantei, dormi na mesa de sinuca, perdi vôo, acabou o dinheiro, vi neve, vi a torre eiffel, vi gente doida, mas também me perdi, me arrependi e me diverti. Foram 15 dias frenéticos e agora to aqui, cheio de dor de cotovelo, preparando a alma lentamente pra partir.

Em Lugano, encontrei Roberta e Massud, seu marido. Vi o Lago lindo, comi pratos tipicos, recarreguei as baterias, vi a neve e pisei nela, vi um bambi na rua também. Aprendi sobre o islã com o Massud, que é iraniano e aprendi como mudar de vida, com a Roberta. Foram alguns dias de paz convivendo e repartindo a intimidade com pessoas queridas. Sobrevivi ao frio na boa.

Em Brussle, conheci brasileiros, que me apresentaram a mais brasileiros, que viraram colegas de hostel e depois amigos de verdade. Vi um moinho pela primeira vez, vi córregos como veneza e tomei uma caneca de um litro de Stella Artoir. Fomos pra Bruxelas, dividimos apartamento, roubaram o GPS do carro, fomos a balada, conheci gente pra caramba que inclusive, nos acompanharam pra uma festinha mais reservada. Bruxelas ficou pra trás e seus pontos turísticos sem graça.

Amstersdam estava lotada e linda. Feriado, novos amigos, baseado, bicicleta por todo lado, putas na vitrine e um hotel de quase 100 euros ao dia. O dinheiro se foi e sobrou a mesa de sinuca pra dormir por 15 pilas. Dois Spaces Cakes e dormi feito anjo. Vi um japonës de bigode e o chão parecia batata ruffles. Efeitos da fumaça na cachola.

Paris foi acordar aos pés da torre eiffel. Foi encontrar com gente doida, que dá beijo triplo no metrô mas também conhecer gente amorosa, que dá beijinho e cheirinho a cada esquina. Paris é clássica e linda assim como seu povo. Deixei lá um pouquinho da minha música, tocando no mesmo bairro onde Picasso e Modigliani deixaram sua marca. Ficou uma saudade grande que só não era maior que a expectativa de encontrar com Gustavo em Dublin.

E agora to aqui, vivendo em comunhão com Juliana, Gus e mais um casal que divide apartamente com eles, no qual tornaram-se também amigos de verdade. Adoro estar com eles e sinto uma vontade enorme de ficar. Sinto também que a roda gigante rodou no Brasil. Gente namorando, a banda mandando ver, a família, os amigos, tudo funcionando sem mim. Acho que isso é dor de cotovelo porque a viagem tá no fim e tenho medo de saber o que deixei de ganhar e mais ainda o que perdi. Mas esta é a vida, um parque de diversão cheio de emoções.