segunda-feira, 13 de junho de 2011

CORAÇÃO PESQUE E PAGUE

Neste lago de águas diáfanas não é preciso vara porque meus sentimentos vão até você. É simples amigo: pegue um olhar, uma mentira bem contada ou qualquer outra migalha, jogue e fique esperando. Logo meus pequenos animais virão comer na sua mão. Tenho de todo tipo, rajados de vermelho, dourados, graúdos e miúdos. Só escolher. Qual recomendo?Aquele grande ali. Come de tudo, cresce rápido mas não digere muito bem. Se chama carência. Tem aquele outro que se chama vingança. Muito ruim de limpar mas tem um sabor inigualável. Escolhe o seu e não me encha mais. A fila deste pesque e pague não pára de crescer.

Dias de feriado é comum acamparem no meu gramado. Já foi mais verde, bem cuidado. Hoje é terra batida com ervas daninhas e capim querendo impor sua natureza pobre. São anos de uso sem qualquer preservação. Neste que passou chegaram em bando e a oferta de iscas foi tanta que alguns sentimentos cresceram demais. A vaidade, a futilidade e a prepotência são raças que não vivem em harmonia dentro de mim e afugentam lá para o fundo do meu lago os sentimentos mais bonitos. Aliás para conhecê-los será necessário mais esforço da outra parte. Não se encantam com os mimos baratos jogados no espelho d´água. Interessado?então mergulhe de cabeça nas profundezas e cavidades do meu coração.

Preferindo também tenho um brejo onde todas as minhas putarias sobrevivem chafurdadas na lama. Promiscuidades cabeludas, fetiches de quatros patas e outra ordem de bichos que parecem estranhos à luz do sol mas se tornam deliciosos à luz da lua. Rompa a carapaça e terá direito de chupar, lamber e morder tudo que encontrar.

À primeira vista ter um pesque pague parece ser um bom negócio porque os clientes viram amigos e sempre aparece gente nova para se divertir. Pensar que você contribui com a vida alheia dá uma leve impressão que se está cumprindo uma missão divina na Terra. Só tenho medo dos recados da mãe natureza. O nível do meu lago a cada ano desce mais e essas águas feitas de lágrimas caídas em um filme bobo de romance ou preenchidas pelo suor de um orgasmo sincero estão cada vez mais difíceis de extrair. Tenho medo de acordar um dia e ver toda espécie rara de ternura, encantamento e lealdade agonizando por um palmo de lago. Justamente estas que viviam em cardume e faziam cócegas no meu estômago quando eu ainda conseguia lembrar o nome de quem se interessava por sentimentos dessa espécie.